Erdogan clama vitória e prepara-se para ser superpresidente da Turquia

Apesar das acusações de fraude a da contestação da oposição, Recep Tayyip Erdogan acaba de se proclamar vencedor nas eleições turcas deste domingo, preparando-se, assim, para assumir uma superpresidência
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"O nosso povo deu-nos a tarefa de ficar com os cargos presidencial e executivo. Espero que ninguém tenta lançar sombras sobre os resultados e prejudicar a democracia para disfarçar o seu próprio falhanço", declarou, em Istambul, aos jornalistas o presidente turco que antecipou as eleições presidenciais de legislativas para tentar consolidar o seu poder.

Com 96% dos votos contados, no que toca às presidenciais, Erdogan, do partido islamita AKP, surge com 53% dos votos, à frente do seu principal rival da oposição, Muharrem Ince, do partido secular CHP, que surge, por agora com 31%, segundo os dados das televisões que estão a ser citados pela agência Reuters.

Com 98% dos votos contados, no que toca às legislativas, o AKP surge com 43% e o seu aliado MHP 11%. No campo da oposição, o CHP, partido fundado pelo pai da Turquia moderna Kemal Atatürk, recolhe 23%. O partido pró-curdo HDP consegue, por seu lado, 11%, passando a barreira necessária para entrar no Parlamento, que é de 10%.

A oposição suscitou dúvidas sobre a credibilidade dos resultados eleitorais, dizendo que foram divulgados pela agência de notícias Anadolu, que é controlada pelo Estado, sendo também a única com acesso à informação sobre a contagem dos votos. Bulent Tezcam, porta-voz do CHP de Muharren Ince, um professor de Física conhecido crítico de Erdogan, garantiu que de acordo com dados internos do seu partido o atual presidente teria que disputar uma segunda volta. O responsável afirmou que há inúmeras denúncias de irregularidades e fraude a circular nas redes sociais.

"O povo turco elegeu Erdogan como primeiro presidente/executivo de acordo com o novo sistema. O povo turco disse que quer continuar a seguir em frente com o presidente Erdogan", declarou o porta-voz do governo da Turquia, Bekir Bozdag, em declarações feitas através do Twitter e citadas pela agência Reuters.

415 observadores estrangeiros estiveram acreditados para participar nestas eleições. A OSCE, que teve observadores no terreno e prometeu uma reação oficial para esta segunda-feira sobre os resultados, fez saber, em declarações citadas pelo jornal espanhol El Mundo "que a maior parte dos observadores foram bem recebidos ainda que, no caso de alguns, lhes tenha sido restringido o tempo de observação da votação em Diyarbakir".

No poder desde 2002, Erdogan, de 64 anos, é acusado por alguns de se comportar como se fosse um sultão. Nos últimos anos o líder turco tem também afastado o seu país da rota da adesão à União Europeia. De recordar também que, a seguir aos EUA, a Turquia tem o segundo maior exército da NATO.

As eleições de hoje, antecipadas por decisão do próprio, visavam legitimar o resultado do referendo constitucional de 2017. Assim, o presidente passa a ter poderes executivos, podendo nomear diretamente cargos públicos, incluindo ministros e juízes. Pode ainda nomear vários vice-presidentes e será o presidente a decidir quando impõe ou não o estado de emergência (a Turquia está em estado de emergência desde o golpe falhado contra Erdogan em 2016). À luz da nova Constituição, o cargo de primeiro-ministro, atualmente ocupado por Binali Yildirim, será suprimido. Ou seja, resumindo, tudo ficará nas mãos de um superpresidente. E, segundo Erdogan e seus aliados, esse superpresidente será ele.

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