Erdogan acusa Gülen da morte de embaixador russo
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse ontem "não haver dúvidas" de que o assassino do embaixador russo em Ancara é um membro da rede do clérigo muçulmano Fethullah Gülen - seu antigo aliado transformado em adversário que vive auto exilado nos EUA desde 1999. O Kremlin distanciou-se da acusação, dizendo que é muito cedo para apontar culpas. Mevlüt Mert Altintas, um polícia de 22 anos, matou a tiro o embaixador Andrei Karlov, gritando antes de ser morto que o fazia em nome de Aleppo e da Síria - Moscovo é o principal aliado do presidente Bashar al-Assad.
"Não existe razão para esconder que ele é um membro da rede FETÖ. Todas as suas ligações, desde onde foi educado até às suas relações, apontam para a FETÖ", disse Erdogan. O governo de Ancara refere-se aos apoiantes de Gülen como a rede terrorista Fethullah, ou FETÖ (sigla em turco), acusando-os também de estar por detrás da tentativa falhada de golpe de julho. Erdogan pediu, nessa ocasião, a sua extradição aos EUA.
Segundo escreveu no jornal turco Hürriyet um colunista próximo do governo, Altintas esteve em oito ocasiões no segundo nível de seguranças de Erdogan, em eventos em Ancara já depois dessa tentativa de golpe. "Ele estava na unidade que garantia a segurança doméstica atrás da guarda presidencial. Deus nos livre, podia também ter agido aí", escreveu Abdülkadir Selvi.
Altintas, que nasceu na cidade de Soke (leste da Turquia), trabalhava há dois anos e meio na polícia e, segundo o mesmo jornal Hürriyet, esteve destacado no ano passado para uma investigação à rede de Gülen e terá monitorizado reuniões do grupo em Izmir. A agência estatal Anadolu indicava ontem que os procuradores turcos estão a investigar porque é que Altintas não foi capturado vivo - as forças especiais atiraram contra as pernas, mas ele continuou a disparar mesmo ferido.
Ontem, Erdogan indicou ainda que as primeiras investigações sugerem que o atirador tinha ligações estrangeiras, sem dar mais pormenores. Contudo, na véspera, vários altos oficiais turcos alegaram que o rasto do ataque leva a Washington. "É uma alegação absurda, completamente falsa, não há qualquer base de verdade", disse o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, John Kirby. "Qualquer noção de que os EUA apoiaram de alguma forma isto, estiveram por detrás disto ou estiveram indiretamente envolvidos é completamente ridícula", acrescentou no briefing aos jornalistas. Já Gülen condenou "de forma vigorosa este ato de odiável terror".
Por seu lado, o Kremlin disse ser demasiado cedo para saber quem está por detrás do ataque. "Moscovo considera ser preciso esperar os resultados do trabalho do grupo de inquérito", que inclui membros turcos e russos, indicou o porta-voz, Dmitri Peskov. "Não se devem tirar conclusões apressadas enquanto o inquérito não determinar quem esteve por detrás do assassínio do nosso embaixador", referiu. Por causa das tensões geradas com o conflito sírio (mas também a crise ucraniana), Peskov indicou ontem à televisão Mir-TV que o diálogo entre Moscovo e Washington está "congelado a quase todos os níveis".
Na Síria, o governo de Assad (apoiado pelos russos) recuperou ontem totalmente o controlo da cidade de Aleppo, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos - é a maior vitória para o governo desde o início da guerra civil. Os últimos combatentes que ainda se mantinham nos cada vez mais pequenos enclaves rebeldes saíram ontem, depois de as operações de evacuação terem estado suspensas durante quase um dia.