O programa Erasmus+ é normalmente apontado como uma das iniciativas mais emblemáticas da União Europeia. Ao longo de 36 anos já beneficiou mais de 12 milhões de pessoas e, entre estes, muitos milhares de estudantes portugueses que tiveram assim possibilidade de fazer parte dos seus cursos num outro país..Mas será que, na realidade, o Erasmus+ constitui um êxito? Será que podemos dizer que o programa reflete os valores de uma Europa progressista e solidária, no sentido de ser um programa verdadeiramente inclusivo? A resposta é: ainda não. Precisamos de mais inclusão socioeconómica. E também de uma inclusão que tenha em conta valores como a não-discriminação em função do género, religião ou origem geográfica. Só assim podemos cumprir verdadeiramente o Pilar Europeu dos Direitos Sociais..Um estudo da Recovery Watch refere que o Erasmus + chega apenas a 1% do seu público-alvo. Entre 2014 e 2020, e de acordo com dados do Eurostat, 2,5% dos estudantes portugueses do Ensino Superior participaram, em média, por ano, no programa. Uma percentagem baixa que, entre outros fatores, encontra justificação na ausência de uma retaguarda familiar que compense os baixos montantes financeiros atribuídos pelas bolsas Erasmus. Depois, entre os que têm possibilidade de ir para fora, também há desistências. A título de exemplo, nos últimos oito anos, na Universidade do Porto, um dos estabelecimentos de Ensino Superior portugueses que mais estudantes envia para o programa Erasmus, registaram-se 2696 desistências. Entre estas, 207 foram claramente devido a problemas económicos, admitindo a instituição que na base das outras possam estar também dificuldades financeiras "escondidas" sob a capa de motivos pessoais..O Erasmus tem até 2027 uma dotação financeira de 26 mil milhões de euros - um valor superior face à proposta de julho de 2020 da Comissão Europeia - e que foi alcançado na sequência da pressão exercida pelo Parlamento Europeu durante o período de negociações. Com este reforço era expectável que o número de participantes triplicasse durante a vigência dos sete anos do Orçamento Plurianual, mas a covid, a guerra na Ucrânia e a brutal subida da inflação vieram complicar as contas. O que evidencia a necessidade de encontrarmos mecanismos que protejam os beneficiários do Erasmus+ do impacto de crises económicas. Durante o período da troika, por exemplo, o número de alunos Erasmus portugueses no estrangeiro diminuiu consideravelmente..Quando dizemos que o Erasmus é um programa emblemático e inclusivo temos de criar verdadeiramente condições para que assim seja. E isso passa fundamentalmente pelo reforço na sua origem; no Orçamento da UE. O que nem sempre é fácil..As negociações para a revisão do Orçamento da UE para os próximos 7 anos - nas quais sou correlatora no Parlamento Europeu - vão brevemente ter início. A proposta de revisão apresentada em junho pela Comissão Europeia não prevê nenhum aumento do programa Erasmus. O que conseguimos até agora foi apenas o reforço de 3,7 mil milhões de euros no Orçamento da UE de 2024..Como referi, nem sempre é fácil reforçar o programa do ponto de vista orçamental. E quando isso acontece, o valor alcançado dificilmente permite um reforço de todas as bolsas atribuídas. Aumenta mais o número de bolsas do que o montante das ditas. Por tudo isto deve ser repensada a fórmula de cálculo da bolsa Erasmus. O projeto Erasmus for All - que integra diversas Instituições do Ensino Superior europeias - está a estudar diversas alternativas de forma a que o programa seja mais inclusivo..Mas os estados-membros devem ter aqui um papel decisivo. Integrando esta dimensão no âmbito da ação social escolar. Complementando o valor da bolsa Erasmus recorrendo aos chamados envelopes nacionais dos fundos europeus. A flexibilidade assim o permite. Só assim poderemos caminhar para um Erasmus para todos, um instrumento fundamental no processo de construção europeia. Costumamos dizer que "os Erasmus" são os melhores embaixadores da UE..Deputada Europeia (S&D)