"Epidemia" de eucaliptos tem de ser controlada para se evitar incêndios como os de 2017
Cerca de 9% do território nacional é ocupado pela plantação de eucaliptos, um "alastramento desgovernado de árvores" que potencia fogos. Esta é uma das conclusões do livro "Portugal em chamas: como resgatar as florestas".
João Camargo, investigador e engenheiro do ambiente, e Paulo Pimenta de Castro, engenheiro florestal e presidente da Associação de Promoção ao Investimento Florestal, traçam o perfil e o estado da floresta nacional e são perentórios na análise dos dados: Portugal vive a braços com uma "epidemia" de eucaliptos, estando 9 por cento do território ocupado pela plantação deste tipo de árvore. Desde 2010 que assim é.
"Somos recordistas mundiais, o que de facto depois não se traduz em grandes benefícios reais, antes pelo contrário. Entendemos por epidemia quando árvores da mesma idade, ou de idades muito próximas, se vão expandindo ao longo do território", explicou Paulo Pimenta de Castro em entrevista à TSF, esta sexta-feira.
O engenheiro ambiental defende que esta epidemia tem de "ser combatida ou corremos o risco de termos mais um ano de incêndios como o de 2017."
Recorde-se que só o ano passado os incêndios florestais consumiram mais de 442 mil hectares, segundo os dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
2017 foi o ano mais fatal de sempre no que ao número de vítimas em incêndios diz respeito - 100 mortos e mais de 300 feridos. Antes, em 2003, nove pessoas morreram e 120 mil hectares de floresta arderam na sequência de mais de 7 mil fogos. Também 2015 foi dramático, com a floresta a perder mais de 12 mil hectares.
A cultura de eucaliptos é apontada frequentemente como sendo um dos fatores potencializadores dos incêndios. Mas não só. O risco de elevado consumo de água, erosão dos solos, aposta numa monocultura florestal com pouco potencial em termos de biodiversidade, são alguns dos fatores negativos apontados a esta cultura.
Portugal utiliza essencialmente esta árvore para produção de pasta de papel.
Depois dos incêndios de 2017, o Parlamento aprovou uma lei para evitar que sejam plantados eucaliptos em áreas ardidas anteriormente ocupadas por outras espécies. Esta legislação originou uma corrida às sementes recomendadas pelas celuloses, tendo estas esgotado nos viveiros.