Entroncamento asiático

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Primeiro, a embaixada dos EUA, o quartel-general da NATO e edifícios do Governo afegão bombardeados em Cabul durante 24 horas. Depois, foi morto o ex-presidente e principal adepto de negociações entre Governo e talibãs. O aviso mantém-se: forças estrangeiras, governos amigos da ocupação e estratégias diplomáticas para fora do Afeganistão. A patente estava registada em nome da Haqqani, a experiente rede que há três décadas opera nas zonas tribais da fronteira com o Paquistão e que se crê receber apoios dos seus serviços secretos (ISI). A rede Haqqani não faz parte da lista de organizações terroristas nos EUA, mas tem minado mais as tropas americanas do que talibãs e Al-Qaeda, numa fase crítica da transferência da segurança para os afegãos e em cima de novo pico de violência (mais 40% de ataques que em 2010). Mais: o último Agosto foi o mês mais mortífero para as tropas americanas desde 2001 e a relação entre Washington e Islamabad rasteja na lama.

Se os serviços secretos paquistaneses apostam na Haq-qani para minar o processo afegão, sabem que em breve lidarão com um país sem presença americana. Significa isto que os apoios aos maioritários pastunes podem continuar a ser engrossados pela Índia (maior mercado de exportação afegão desde 2005) e com isso deixar Islamabad encurralada entre dois inimigos. A relação Haqqani-ISI tem campo para crescer, mas o Paquistão corre o risco de tornar irreversíveis as relações com EUA e Índia. Não é coisa pouca, acreditem.

Islamabad pode ter de se voltar para um velho aliado: Pequim. A China, sem disparar um tiro no Afeganistão, já garantiu a exploração da segunda maior mina de cobre do mundo a sul de Cabul. O Afeganistão, outrora "cemitério de impérios" pode tornar-se no entroncamento das potências asiáticas. Resta saber se os EUA querem continuar em jogo.

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