ENTREVISTA: Fundadora da Women Without Borders quer mães a prevenir terrorismo
As mães "têm a maior proximidade física e emocional com os seus filhos e percebem quando alguma coisa está mesmo errada", explicou Edit Schlaffer, em entrevista à agência Lusa.
Segundo esta investigadora, as mulheres "são apaixonadas por manter a segurança da sua comunidade, a começar com os seus filhos. Fazem tudo por isso", mas precisam de autoconfiança e de ganhar voz.
É isso que o projeto "Escolas de Mães" está a tentar fazer há vários anos, sobretudo em países onde há mais risco de recrutamento de extremistas.
"Fizemos um grande inquérito a mil mães de países que são mais alvo de recrutamentos de extremistas -- Paquistão, Palestina, Israel, Nigéria e Irlanda do Norte -- e falámos com mães de adolescentes que estavam preocupadas", contou.
O inquérito pretendia saber o que é que estas mulheres temiam e o que a organização podia fazer.
Os maiores receios advinham dos meios mais conhecidos para recrutar jovens, nomeadamente para organizações terroristas -- internet, recrutadores, imãs, entre outros -- mas a resposta sobre o que precisavam "foi dada em uníssono".
"Precisamos de nos unir, precisamos de uma plataforma, um sítio seguro e precisamos de aprender quais são os primeiros sinais de extremismo e de radicalização", descreve a fundadora da organização.
"Percebemos que esta necessidade de conhecimento e de união criava uma comunidade de mães, onde podiam ajudar-se umas às outras, e que isso podia ser muito importante em situações de insegurança, em áreas de risco, e na forma de falarem com crianças e adolescentes em risco", admitiu Edit Schlaffer.
"Começámos a reunir material visual, vozes de mães que passaram por este processo, vozes de mães de terroristas e material em todas as línguas possíveis. Começámos a treinar professores locais, mobilizadores que iam de casa em casa para juntar mulheres em salas de aulas", explicou, garantindo que, "num só mês, essas mulheres tornaram-se geradoras de mudanças".
O processo começa, segundo Edit Schlaffer, na mesa de jantar.
"Quando iam para casa, [essas mulheres] começaram a falar, a interagir com as suas famílias, a fazer as perguntas certas e aquilo que elas levaram para a mesa de jantar deixou pais e filhos espantados", refere.
As famílias ficaram admiradas por as mães começarem a falar de terrorismo, por terem informações e discussões com conhecimento da questão, explicou a investigadora.
De repente, "elas começam a liderar uma discussão que nunca tinha tido lugar na mesa de jantar e isso é uma ferramenta para criar mudanças".
O projeto já chegou a mais de 3.000 mulheres na Europa, sobretudo em Inglaterra, Áustria e Alemanha, estando agora a ser posto em campo na Bélgica e nos Balcãs. Mas também em países fora da Europa, como o Bangladesh, a Índia e a Indonésia.
O próximo passo é, segundo Edit Schlaffer, "trazer os homens para o projeto".
"Recentemente, fizemos uma pesquisa na África Oriental, falando com homens" e os resultados mostraram que "a maioria vai embora quando há problemas, procuram alternativas em outros lugares", contou.
Schlaffer defende que é preciso que os homens assumam um papel mais estável, "envolvendo-se mais nos assuntos de família e ficando lá quando as coisas se tornam críticas, quando há problemas de segurança, de drogas ou de gangues".
Porque "estes são os momentos de abertura ao extremismo", sublinhou a fundadora da organização.
"Se olharmos para as mães e também para os pais como os primeiros influenciadores, [as pessoas] que implementam o respeito pelo outro, criamos verdadeiramente famílias mais felizes e estáveis" e isso impede os jovens de se sentirem tentados por grupos radicais, concluiu.