ENTREVISTA: Europeias/Polónia: Ex-PR Komorowski não acredita na nova mensagem europeísta do PiS
Presidente interino da Polónia após o trágico acidente aéreo que vitimou Lech Kaczynski, então chefe de Estado do país e irmão gémeo do atual líder do PiS, Jaroslaw Kaczynski, e Presidente eleito entre 2010 e 2015, Bronislaw Komorowski mostrou-se, em entrevista à agência Lusa, pouco convencido pela versão pró-União Europeia (UE) do partido do poder, assente na mensagem "A Polónia é o coração da Europa"
"É um 'slogan', confirmado pela geografia, mas não pelas opções políticas do PiS. A Polónia sempre esteve no centro da Europa, não é uma descoberta. No entanto, no âmbito político, devido a ações deste Governo, a Polónia deslocou-se para a periferia do centro da Europa. O Governo atual está apenas a usar a localização geográfica da Polónia, sem dar-lhe uma verdadeira conotação política", argumentou.
Para o político polaco, de 66 anos, a estratégia é "puro calculismo político, calculismo eleitoral e de cálculo", não é baseada "numa mudança de ideais, numa alteração das bases ideológicas".
"Se o regime sente que precisa de ser moderado, será moderado, mas talvez o seu calculismo antes das eleições legislativas lhes indique que devem seguir outro caminho. Não acredito no respeito de Kaczynski pelos valores europeus. Além disso, os membros da sua equipa são maioritariamente eurocéticos e estão permanentemente a criticar a Europa. Não acredito que esse tipo de pessoas possa ser mudado. Contudo, se eles começassem a acreditar na Europa, na democracia, na liberdade dos 'media', ficaria genuinamente feliz", pontuou.
O partido no poder comporta-se, na opinião de Komorowski como o eleitorado deseja, tendo alterado a mensagem depois de estudos recentes terem demonstrado que "uma grande maioria da população, mais concretamente entre 80 e 90%, apoia a integração na UE".
"No entanto, a retórica pró-europeia que estão a usar agora enfrentará o seu maior teste antes das eleições legislativas do outono. Hoje, o PiS não é indiferente ao facto de mais de 80% da população querer pertencer à UE, mas definitivamente à medida que as eleições parlamentares se aproximarem o discurso irá alterar-se, porque 10, 20% dos seus eleitores são anti-UE", ressalvou.
O antigo Presidente revelou mesmo ter assistido a uma tentativa de moderação semelhante antes das eleições presidenciais de 2010, quando era "benéfico ser moderado, em todos os aspetos e em todos os assuntos".
"Ser moderado em relação à Polónia na UE, ao pós-comunismo. Após a derrota em 2010, Kaczynski, que era o líder da oposição e é o líder hoje, 'culpou' os tranquilizantes que tomou [após a morte do irmão gémeo] pela derrota e regressou à retórica radical e fundamentalista que usa hoje. Talvez volte a tomar calmantes para regressar ao discurso moderado", ironizou.
Após ter sido surpreendentemente derrotado nas urnas por Komorowski, Jaroslaw Kaczynski justificou a sua campanha contida e os apelos à união nacional com os calmantes tomados para lidar com a trágica morte do seu gémeo, e regressou aos discursos radicais, acusando o então Governo, liderado por Donald Tusk, de ter conspirado com a Rússia para assassinar o irmão, causando a queda do avião onde Lech Kaczynski e outras 95 personalidades polacas seguiam na localidade russa de Smolensk.
O antigo governante, que falou com a Lusa à margem de uma conferência organizada pela sua fundação em Varsóvia, mantém-se, contudo, otimista quanto a uma vitória da Coligação Europeia e das "forças pró-europeias" nas eleições de 26 de maio, estimando que esta possa ser bem-sucedida, apesar de ser difícil prever "um sucesso gigantesco da coligação".