"Na prática, a EDP do Gana vai ser gerida por nós durante 20 anos", adiantou Ricardo Machado à agência Lusa, em Lisboa, acrescentando que o consórcio que integra vai investir cerca de 600 milhões de dólares (532 milhões de euros) na infraestrutura..A transferência dos ativos da empresa pública de eletricidade ganesa, que vão ser geridos pelo consórcio que integra a Aenergy, o grupo filipino Meralco e parceiros locais (PDS), foi assinada em março, seguindo-se um processo de transição que durará entre seis a doze meses, estima o CEO da Aenergy..A PDS (Power Distribution Services), que conta com cerca de quatro milhões de clientes e controla 80% da energia no país, fatura mais de dois mil milhões de dólares (1.778 milhões de euros) por ano e emprega 6.000 pessoas.."Contratámos o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) para nos apoiar e é este banco que está a liderar toda a operação financeira, enquanto o Standard Bank será cofinanciador", acrescentou Ricardo Machado, salientando que o Gana é, neste momento, o país que mais cresce no mundo..Para o responsável da Aenergy, foi decisivo para derrotar os concorrentes, que "vieram de todo o mundo", o facto de o consórcio juntar a Aenergy, com experiência em África, ao parceiro filipino, Meralco, uma empresa pública com 115 anos, que domina a gestão de redes..A Aenergy, uma empresa com "ADN africano", nascida em Angola em 2012, quer manter-se em África e não pensa "expandir-se para outras regiões", garantiu à Lusa o empresário português..A empresa começou em Angola com um parque eólico, juntou-se a parceiros como a General Electric (GE) e, mais recentemente, a Siemens em vários projetos e está atualmente implantada em vários países, contando com mais de 500 trabalhadores diretos, incluindo 150 no escritório de Lisboa, onde se instalaram este ano pelas "facilidades logísticas" e ligações aéreas aos mercados africanos da Aenergy..A empresa angolana está ainda a "fechar o projeto de uma central térmica nos Camarões", um investimento de 210 milhões de dólares (186 milhões de euros) com uma potência instalada de 110 MegaWatts (MW) que está a ser apoiado a nível de financiamento pelo BAD e Afreximbank e está também a colaborar com a EDM (Eletricidade de Moçambique) numa iniciativa que visa reduzir o consumo de energia no país..Na área das energias limpas, a Aenergy começou a emitir certificados verdes ('green bonds') para financiar renováveis em Angola, Gana e Moçambique.."Estamos a emitir 'green bonds' na bolsa do Luxemburgo para desenvolver projetos renováveis em África focados em Angola, no Gana e em Moçambique. Temos uma linha muito interessante que conseguimos fechar com o Afreximbank, no valor de 400 milhões de dólares (355 milhões de euros)", sublinhou Ricardo Machado, adiantando que o risco "é muito baixo para quem compra a dívida" pois o Afreximbank garante a operação.."O nosso objetivo é ter projetos sustentáveis em todos os sentidos. Quando se fala em energia sustentável não é só ter energia que seja 'green', o próprio serviço da dívida tem de ser sustentável porque o financiamento que paga esta energia tem também de ser sustentável", continuou..A Aenergy entrou recentemente numa nova área de negócio, avançando com a exploração de recursos minerais, na Guiné-Conacri.."Começámos por operar centrais, agora estamos na rede de distribuição e nas IPP (produtores independentes de energia) e percebemos entretanto que a energia também precisa de baterias, por isso criámos um veículo para obter licenças de exploração de minerais" ligados à energia como o lítio, avançou o gestor. .A Aenergy quer também continuar a crescer em Angola.."Temos orgulho de ser uma empresa de Angola que saiu para toda a África. Temos bastantes projetos, mas queremos mais, queremos trazer mais investidores", salientou..Neste momento, a Aenergy opera a maior central térmica de Angola e tenciona construir outra central num modelo de IPP..Ricardo Machado destaca que os projetos que estão neste momento a propor em Angola "são todos de investimento privado", tendo em conta as novas diretivas do governo do Presidente João Lourenço.."Até aqui construíamos e dávamos ao governo e há um ano começámos a propor projetos de investimento privado", afirmou, justificando que "o mercado está a abrir-se mais" aos investidores, mas há ainda "um caminho a percorrer"..Para o diretor-geral da Aenergy "é importante que os governos percebam a importância de trazer novos 'players' privados para o mercado, que não criem obstáculos a essas entradas e que, acima de tudo, garantam que quando se faz o trabalho se recebe".Atualmente, Angola representa entre 40 a 50% da faturação da Aenergy, que ronda os 500 milhões de dólares (444 milhões de euros) anuais e Ricardo Machado assegura que "a preocupação é reinvestir" no país e procurar soluções eficientes. ."Não podemos querer ir para África com soluções antigas. África precisa de tudo e é um desafio gigante que temos pela frente, mas se formos sérios e eficientes as oportunidades estão todas lá", disse o gestor, frisando que a Aenergy é a primeira empresa africana com certificação anticorrupção.