ENTREVISTA: Acordo Rússia-África obedece às necessidades económicas dos dois blocos - Afreximbank

Moscovo, 25 jun 2019 (Lusa) -- O presidente do banco pan-africano Afreximbank, Benedict Oramah, afirmou que o reforço das relações entre África e a Rússia obedece às necessidades dos dois blocos económicos.
Publicado a
Atualizado a

"A decisão de nos voltarmos a ligar tem uma premissa de cooperação económica: a Rússia tem necessidade de parcerias de abrir os seus mercados, tal como a áfrica precisa de parcerias", afirmou à Lusa o dirigente do banco pan-africano com sede no Cairo que tem como principal foco o financiamento e promoção do comércio e investimento no continente.

Em Moscovo, o Afreximbank organizou as jornadas em Moscovo a pedido do Governo da Federação Russa, que elegeu 2019 o ano da cooperação com África, recuperando uma ligação política e económica que remonta às relações da União Soviética com o processo de combate ao colonialismo europeu, no século XX.

Entre a Rússia e África, "de um modo geral, cada uma das partes necessita da outra", afirmou Benedict Oramah.

"O potencial de África é imenso, mas não pode ser a vender óleo de coco ou petróleo. Ninguém quer esse tipo de parcerias. Queremos importar equipamentos e bens de investimento para criar riqueza e melhorar as condições para competir no futuro", afirmou Oramah.

Segundo o dirigente bancário, o continente possui 90 por cento dos depósitos de cobalto (essencial para as baterias), 50 por cento das reservas minerais de ouro e 60 por cento das terras aráveis do mundo.

O continente é o que tem a população mais jovem (60 por cento abaixo dos 24 anos) e com o maior aumento de classe média, 300 milhões estimados em 2030, o que cria necessidades energéticas, de habitação e de acessibilidades.

A zona de livre-comércio, quando abranger o total do continente, irá permitir um mercado integrado de 1,2 mil milhões de pessoas com um valor estimado de Produto Interno Bruto (PIB) de 2,2 biliões de euros.

"Uma revolução está a varrer o continente africano sem derramamento de sangue. É pacífica e irá alterar o nosso mundo, quebrar antigos pressupostos e remodelar as nossas vidas", afirmou Oramah

Nesse sentido, "a Rússia pode ser uma fonte de bens de investimento de que África precisa para desenvolver as suas infraestruturas", ao "transferir tecnologia crítica na área da informática, pesquisa de minérios, agroindústria e processamento de matérias-primas".

Em 2018, o comércio bilateral entre a Rússia e o continente atingiu os 20 mil milhões de euros, um valor que Oramah considerou "abaixo do potencial".

No seu entender, as trocas comerciais entre os dois blocos "podem facilmente" ultrapassar os 35 mil milhões de euros até 2023.

"Existem muitos fatores e indicadores que sustentam a nossa previsão", disse, dando o exemplo do aumento em cerca de 70 por cento das trocas comerciais entre 2017 e 2018, acrescentou.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt