Entrevista a Christophe Honoré (realizador francês) e Louis Garrel (actor): "Um filme dramático com canções"

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Quando o filme passou no Festival de Cannes, toda a gente falou em Jacques Demy e na Nova Vaga. O que pensa desta rotulação instantânea? É pertinente?

Chistophe Honoré - É uma retórica habitual na crítica. Faço parte dos realizadores cinéfilos, escrevi sobre cinema e penso que, antes de tudo, o cinema é um trabalho sobre a sua memória e que os filmes reflectem principalmente os que foram feitos antes. Mentiria se dissesse que Demy e a Nova Vaga são estranhos a este filme. São importantes, principalmente Jacques Demy que é um dos meus cineastas favoritos desde a adolescência, e a Nova Vaga porque os meus dois filmes anteriores foram feitos com pouco dinheiro, de uma forma muito livre, em Paris, com actores que já conhecia, e com métodos aparentados aos daquela.

O filme foi feito a partir das canções que Alex Beaupain compôs após a morte súbita da noiva?

CH - Deu-se realmente a desaparição de uma pessoa que era muito próxima do Alex e de mim - somos amigos há muito tempo. Ele escreveu várias canções em redor dessa pessoa e da sua desaparição, eu falei um pouco dela nos meus livros. Anos depois, quisemos confrontar juntos a recordação do sucedido e fazer como que um gesto para uma pessoa de quem gostávamos muito. Escrevi um argumento partindo de canções do Alex já existentes, depois transformámos em canções partes desse argumento, e o filme ficou assim, assente em episódios pessoais e no romanesco.

As Canções de Amor é um filme musical ou um filme dramático com canções? E como reagiu o Louis quando soube que tinha que cantar?

CH - Acho que é um filme dramático com canções. Daí as referências a Demy, adoro-o. Mas ele estava sob a influência do musical de Hollywood, que vinha da Broadway, e refez esses musicais usando as ruas como se fossem o teatro, com as suas cores, etc. No meu filme, não há referências ao musical hollywoodiano, mas a uma tradição do filme francês, o filme popular com canções.

Louis Garrel - Eu nunca cantei em público, a minha voz não me parecia muito satisfatória e discuti isso com o Christophe. Mas depois compreendi que não se tratava só de cantar, mas sim de interpretar enquanto cantava. Ensaiei com o Alex Baupain e ele agora diz que o imito!

As canções têm várias funções?

CH - Umas expressam sentimentos espontâneos, outras contam situações, e outras servem como enredo. Mas o filme nunca pára por causa das canções. Elas constroem-no e dão-lhe a forma, a de uma comédia dramática musical que por vezes entra no território trágico e tenta dar conta de uma certa realidade da juventude francesa de hoje.

Uma juventude francesa, ou apenas parisiense?

LG - As Canções de Amor é um filme francês que se passa em Paris. Mas também um filme parisiense, no sentido em que Paris é filmada como se fosse uma vilazinha. O Christophe olha-a como se fosse a primeira vez. Paris é uma cidade ultraconhecida e ultrafilmada, mas aqui ela é mostrada com vida, com o que tem para oferecer e não com o que evoca.

Agora vai rodar uma versão contemporânea de A Princesa de Clèves, passada num liceu...

CG - Sim. Vou confrontar o Louis com pessoas mais jovens do que ele.

LG - Oh, ainda não li o argumento!...

CG- O filme passa-se de novo em Paris e ele vai interpretar um professor. Será o fecho de uma trilogia.|

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