Entre vinte candidatos às eleições há três antigos presidentes

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A menos de dois meses das eleições presidenciais na Guiné-Bissau, vinte candidatos alinham-se na grelha de partida e três deles podem ser considerados pesos- -pesados no contexto da história recente do país, tendo como traço comum o facto de já terem passado pela chefia do Estado guineense - Malam Bacai Sanhá, figura histórica do PAIGC, combatente pela liberdade da pátria e currículo que o liga a quase todas as áreas do poder, tendo sido administrador local, governador regional, parlamentar, ministro e, até, presidente da República interino após o violento confronto de 1998; Kumba Ialá, agora Mohamed Yalá Embali, fundador do PRS e antigo e controverso presidente da República, eleito em 2000 e destituído em 2003; e Henrique Rosa, um independente que chefiou, também interinamente, o Estado a seguir à destituição de Kumba Ialá, em 2003. Seguem-se 17 outros candidatos: os independentes Baciro Dabó, que é ministro da Administração Interna, Braima Djaló, Paulo Mendonça, Abdulai Silva, Luís Nancassa e João Cardoso, que foi chefe de gabinete do presidente Nino Vieira; e, com suporte partidário, Aristides Gomes (PRID), Francisco Fadul (PADE C), Arregado Té (PT), Serifo Baldé (PDSS), Iaya Djaló (PND), Cirilo Oliveira (PS), Viriato Fadiá (PDCP), Eusébio Silva (PDG), Pedro Infanda (PE), João Tatis Sá (PPG) e Francisca Turpin (UPG), a única mulher no avantajado grupo de candidatos.

A campanha e as eleições vão decorrer num quadro político ainda muito fortemente marcado pela morte, em Março, do presidente Nino Vieira e do principal chefe militar, Tagme Na Waye, e num cenário em que continuam a predominar esses dois elementos simbólicos que são, conforme uma vez sublinhou Carlos Lopes, sociólogo guineense agora alto quadro da ONU, a arma e o militar, símbolos ainda muito valorizados e que projectam, por via indirecta, a valorização da violência "como forma de resolver problemas".

A arma e o militar continuam a ser, de facto, os principais obstáculos que se colocam a um país que tem outras e até aqui difusas e não resolvidas questões, como o narcotráfico e o oportunismo, este constituindo outro elemento simbólico da Guiné-Bissau, e que leva à demanda de posições e recursos que respondam ao que Carlos Lopes também referiu como a angústia centrada na curta esperança guineense de vida e que leva os nacionais a cedo terem de tratar da vida, o que, no caso das elites, as conduz para o esforço de uma rápida e primitiva acumulação de capital…

E a Guiné tem sido, além disso tudo, um país de forte e condicionador presidencialismo. Nino e Kumba, os dois presidentes eleitos, foram sempre mais protagonistas que árbitros, envolvendo-se mais no exercício activo do poder, quase sempre redutor da acção dos outros órgãos de soberania, que nesse fundamental trabalho de pacificação das mentes, de estabilização do país e do estrito cumprimento da Constituição.

Só as experiências interinas, e sempre nas pausas de regulares surtos de violência, foram capazes de criar bolsas de respiração na Guiné e delas foi a presidência de Henrique Rosa a mais marcante, circunstância que agora o empurra para a primeira linha.

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