Entre uma sessão de reiki e um episódio de Naruto

A 15.ª edição do Iberanime acontece neste fim de semana no Meo Arena em Lisboa e junta cerca de 35 mil otakus, ou seja, fãs da cultura japonesa, muitos deles vestidos a preceito.
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Raparigas de minissaia e meias altas, ar colegial, duas delas com cabelos coloridos e totós, lentes de contacto com efeitos, um rapaz de cabelo artisticamente modelado, um outro caracterizado como um urso de peluche. Quem são e de que planeta de animação vieram? "Somos um grupo de Danganronpa, que é um animé japonês apocalíptico, pop punk, em que as personagens são alunos de um liceu e tem a morte por pano de fundo. É a luta entre a esperança e o desespero. Este é o primeiro meet do nosso grupo", conta Ana, de 20 anos. Os cinco amigos são cosplayers, ou seja, vestem-se de personagens fictícias da cultura animé japonesa. Quem os encontre na rua assim vestidos poderá achar estranho, mas ali, no Meo Arena, é absolutamente normal. Pelo menos durante a realização da 15.ª edição do Iberanime, o encontro dedicado à cultura japonesa, que hoje termina.

O cosplay (costume play) é apenas a faceta mais visível da paixão que milhares de pessoas têm pela cultura japonesa. "A minha personagem é a Sónia, sou a princesa do grupo", diz Ana, que na vida real é estudante do curso superior de Geografia e Planeamento Regional. "Faço cosplay há sete anos, tenho criado a minha marca. Já consigo fazer algum dinheiro. Normalmente faz-se dinheiro vendendo brindes, tirando fotografias dos nossos cosplays", explica a jovem. "Podemos transformar este hobby numa carreira."

Os outros Daganronpa são Sandro, de 21 anos, estudante de Informática, como Nagito, cujo "talento é a sorte e tem ainda obsessão por esperança"; Valdonedo, de 21 anos, também estudante de Informática e Gestão, que incarnava o Monokuma, "o diretor da escola que é um peluche controlado por forças superiores"; Raquel, de 19 anos, estudante de Fisioterapia como Mukuro Ikusaba, que "é uma militar, boa para a porrada"; e ainda, Catarina, de 20 anos, estudante de Ciências Forenses e Criminais, na pele de Junko Enoshima, a Rainha do Desespero. As roupas foram feitas por eles ou pelas mães. "Nós investimos dinheiro para criar e vestir a personagem. Neste, de Sónia, gastei 70 euros, mas já cheguei a gastar 400 euros num fato", diz Ana.

Para os fãs do animé, explicam, o evento mais importante em Portugal não é o IberAnime, mas o Comic-Con que se realiza em dezembro no Porto. No entanto, a organização espera receber 35 mil pessoas neste fim de semana no Meo Arena, em Lisboa. Todos os anos se realizam duas edições do Iberanime, uma a norte, outra a sul. A próxima será em outubro, em Gondomar.

André Manz é o responsável pela existência do Iberanime. Empresário, dedica-se a negócios tão diferentes como o fitness ou a produção de vinhos. O seu interesse por animé (ou seja, animação japonesa) começou em casa: "Queria melhorar a comunicação com os meus filhos", conta. Foi por isso que começou a ver filmes com eles, a ouvir k-pop (a música pop sul-coreana) e a levá-los a convenções no estrangeiro. "Achei que seria possível fazer um evento em Portugal porque já existiam muitos fãs aqui e comecei a criar o nosso próprio modelo, que é mais do que uma feira, é como um parque de diversões, temos palcos, workshops e muitas atividades. Queremos que as pessoas saiam daqui com uma pequena frustração, por não terem conseguido experimentar tudo." A aventura começou há sete anos. Entretanto, os dois filhos de André Manz cresceram, já têm 14 e 18 anos, e não só adoram esta oportunidade de estar muito próximos da cultura japonesa como ajudam o pai na organização do Iberanime.

No Meo Arena é possível comer noodles, aprender técnicas de ilustração de manga, assistir a uma exibição de karaté ou dança tradicional japonesa. Entre uma sessão de reiki e um episódio de Dragon Ball, podemos comprar gigantes e coloridos Pikachus de peluche, bonés com o Pokémon, discos de k-pop, posters, pulseiras, porta-chaves e o que mais se quiser com desenhos alusivos ao universo do animé.

A Embaixada do Japão também tem um stand no Iberanime. Ali, além de divulgar informações sobre o país, dá a possibilidade aos visitantes de experimentarem o furoshiki, que é uma técnica de fazer embrulhos, ou de tirarem fotografias com yukata (o traje tradicional de verão). O embaixador japonês em Lisboa, Hiroshi Azuma, subiu ao palco principal, após a atuação do músico Joe Inoue e antes do concurso Cosplay World Masters, para cumprimentar todos os otakus (fãs da cultura japonesa): "Konban wa", disse ao microfone. E a plateia respondeu-lhe em coro: "Konban wa", que é como quem diz "boa noite".

A língua japonesa é difícil, mas os que ali estão sabem algumas palavras mais básicas. "Tudo o que é do Japão é apaixonante", declaram Sara e Joana, de 17 e 15 anos, respetivamente. Gostam da música, da animação Naruto, da comida (os Pocky, tubinhos de chocolate), da "maneira de ser dos japoneses". É também por isso que anunciam na testa free hugs - "abraços à borla" - e abrem os braços a quem passa por elas: "Lá fora podem achar que somos tontinhas por fazermos cosplay, mas aqui somos todos iguais, não há discriminação." Só lhes falta ir ao Japão, esse é o sonho maior.

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