Entre a honra e a falta de argumentos
A ideia de Portugal poder vir a perder o lugar de vice-comandante na hierarquia de comando da NATO em Oeiras é desagradável, mas se tivermos em atenção que, aquando da última reforma da organização, em 2002, se admitiu a possibilidade - real e efectiva - de este quartel-general desaparecer, a sua simples permanência em território nacional é, já de si, uma vitória.
A verdade é que a retirada das tropas portuguesas do Afeganistão, no preciso momento em que a NATO precisava de mais homens no terreno, fragilizou a posição negocial de Lisboa, em especial quando se compara esse contributo com o de países como a Bélgica ou mesmo a Estónia. Acresce a isto o facto de esse processo ter sido em tudo semelhante ao sucedido no Kosovo em 1999, onde, apesar da desculpa oficial do envolvimento em Timor-Leste, a decisão foi mal aceite e de difícil digestão por parte dos outros países aliados.
A eventual perda do vice-comandante da NATO em Oeiras é uma decisão de difícil aceitação no meio militar e também político. Num país fundador da NATO, e cujos interesses permanentes passam muito por África e pelo Atlântico Sul, acaba por ser incompreensível a possível atribuição a um militar turco, cujo quadro geoestratégico de pensamento e acção está muito mais virado para a Europa Central e Médio Oriente.
É mais um sinal preocupante dos efeitos que a crise, apesar das medidas do Governo, está a ter no nosso país: o Banco Alimentar recebeu num só mês tantos pedidos de apoio directos como em todo o ano passado. É a própria presidente da Federação de Bancos Alimentares Contra a Fome, Isabel Jonet, que o confirma hoje ao DN.
Em média, quase três portugueses por dia dirigiram-se àquela instituição em busca de alimentos. Um número impressionante, atrás do qual se esconde ainda uma outra particularidade: a opção pelo pedido directo permite concluir que todos estes casos são absolutamente novos, pois quem já teve de recorrer à solidariedade do Banco Alimentar sabe que este tem há muito adoptada a política de só prestar auxílio através das instituições de solidariedade social.
Situações como esta aconselham precaução a todos os que ainda vão conseguindo escapar à crise, a quem se pede, mais do que nunca, sensibilidade para iniciativas solidárias como a que as organizações não governamentais (ONG) estão a promover neste momento, apelando aos portugueses que as apoiem através da declaração de IRS.
Mas, ao mesmo tempo, é preciso resistir ao pânico injustificado, porque o optimismo e a confiança num futuro melhor são essenciais para estimular a economia, pois sem consumo a vida das empresas será cada vez mais difícil e consequentemente a dos seus trabalhadores. Um ciclo vicioso que importa a todo o custo travar.