Entre a glória e uma época sem troféus
Quinze quilos de prata, apoiados numa base de mármore amarela, em formato de uma taça, sem pegas. Este objecto simples, sóbrio e o mais pesado dos troféus da confederação europeia poderá fazer hoje as delícias de milhares de adeptos do futebol português, e muito especialmente dos sportinguistas. Para tal, a equipa de José Peseiro, que apresentará o seu onze de "gala" (no plantel só Pinilla, que no treino de ontem se ressentiu da lesão, está impedido de dar o contributo), terá que justificar, perante um estádio lotado dos seus próprios adeptos, a superioridade que lhe é atribuída sobre o CSKA de Moscovo.
Quarenta e um anos depois do último troféu europeu conquistado (a extinta Taça das Taças), o Sporting, já "curado" da derrota na Luz, promete fazer história e enriquecer o palmarés recente do futebol nacional, que nas últimas três épocas ganhou uma Liga dos Campeões, uma Taça UEFA (ambas pelo FC Porto) e chegou à final do Campeonato da Europa (perdeu a final para a Grécia).
Além do prestígio, a questão financeira também pesa. O clube leonino, em caso de vitória, arrecada mais de três milhões de euros, que são somados aos cerca de 2,5 que já ganhou só por ter chegado à final. É claro que os jogadores também serão recompensados pelo clube, que já acordou um prémio com o plantel, se esta noite a festa se fizer em tons de verde-e-branco.
"Estamos próximos de conquistar um grande feito para Portugal. Volto a dizer que estamos confiantes e queremos concretizar o trabalho que temos feito e que é, sem dúvida, enorme. Temos grande vontade, esperança, motivação e con- fiança em conseguir este título. Queremos dar uma alegria aos portugueses, que estão à espera desta vitória ", afirmou José Peseiro, que garante que os seus jogadores "já esqueceram" o mau resultado de sábado, frente ao Benfica.
Contudo, a verdade é que depois de afastadas as hipóteses de vencer a Superliga, hoje o Sporting joga todo o trabalho de uma época. Um eventual desaire poderia condicionar, em muito, o futuro da equipa, e nomeadamente de Peseiro, apesar de ter conseguido, no seu primeiro ano de treinador principal num "grande", levar os leões à final da segunda mais importante prova europeia de clubes. Mas deste cenário ninguém quer falar em Alvalade.
Confiança e vitória são as palavra de ordem entre os leões. De tal forma, que o cansaço, derivado de uma sobrecarga de jogos, não é visto como um obstáculo extra. "O factor físico não pode ter nenhum peso. Não faz sentido falar disso neste jogo. Estamos num momento de aglutinação completa, confiamos na nossa qualidade de jogo, no carácter dos nossos jogadores e, com estes elementos, o cansaço vai desaparecer todo. Estamos no final da época e os russos a meio, mas isso não vai ter peso", reforçou Peseiro, que tem quase todo o plantel à disposição. Comparativamente à partida da Luz, o treinador já poderá contar com o segundo melhor marcador da competições, Liedson (9 golos, menos dois que o inglês Alan Shearer), assim como o médio Carlos Martins e o defesa Enakarhire, já recuperados.
Facilidades, porém, é o que o adversário promete não conceder. O CSKA - que já disse pretender ser a Grécia da Taça UEFA - também usa a terminologia "fazer história". Tal significa tornar-se na primeira equipa russa a vencer um troféu europeu, numa época em que já defrontou o FC Porto (na Liga dos Campeões) e eliminou o Benfica (16-avos-de-final da Taça UEFA).
* Com Isaura Almeida