Entrar no closet de Josefina e descobrir que a imperatriz era uma vítima da moda
Tal como acontece nos dias de hoje com a rainha Letícia de Espanha ou KateMiddleton, a Duquesa de Cambridge também toda a roupa usada pela Imperatriz Josefina era alvo das maiores atenções, servindo para lançar novas tendências e ditar modas. Foi assim desde o início, com o vestido que envergou a 2 de dezembro de 1804, na Catedral de Notre-Dame, em Paris, na coroação de Napoleão Bonaparte como imperador.
Esse vestido, imortalizado no quadro A Coroação de Napoleão, de Jacques-Louis David, que se encontra exposto no Museu do Louvre, na capital francesa, não se encontra entre os 50 expostos até março no Museu dos Palácios de Malmaison, nos arredores de Paris. E a razão é simples, explica a curadora da exposição Dans les Armoires de L"Impératrice Joséphine. "Duas vezes por ano, Josefina fazia o que se chamava a reforma das roupas. Ou seja, escolhia o que já não usava ou já não gostava e oferecia", afirma Céline Meunier, principal conservador do património dos Palácios de Malmaison e Bois-Préau, propriedade comprada pela imperatriz em 1799, três anos após o seu casamento com Napoleão e para onde veio viver depois do divórcio, em 1809.
Para além dos 50 vestidos, a exposição exibe ainda numerosos acessórios de roupa do estilo Primeiro Império, "raramente apresentados devido à sua extrema fragilidade", sublinha a curadora. Mais, destaca no texto de apresentação da exposição, "esta coleção é a única a reunir tantas peças têxteis pertencentes à imperatriz e à sua filha Hortênsia". A exposição tem outra curiosidade: estas roupas são mostradas no local onde as duas viveram. Aliás, a visita começa precisamente naquilo a que hoje chamaríamos o closet de Josefina. A Sala da Elegância, como é conhecida esta divisão do palácio de Malmaison, fica situada no segundo andar e era aí que uma dezena de pessoas tratava das roupas do palácio sob o olhar atento de uma responsável. Diariamente eram cuidadosamente escolhidas as várias mudas de roupa que a imperatriz iria usar e colocadas em enormes cestas que depois desciam ao seu quarto de dormir.
Josefina de Beauharnais, de nome de nascença, Marie Josèphe Rose Tascher de La Pagerie, entrava aí só duas vezes por ano: quando escolhia as roupas para dar. Os armários nesses dias supervisionados pela imperatriz continuam nos mesmos locais e as portas abertas apenas deixam imaginar parte das roupas luxuosas que preencheram as inúmeras prateleiras.
É que, se quando a imperatriz morreu, em 1814, o inventário registou 230 vestidos, 100 xailes, 450 camisas, 369 pares de meias e 876 lenços nesses armários, há documentos que provam a existência de muitos mais durante a sua vida. A dada altura, teria mesmo 800 vestidos e há registos de apenas num ano ter comprado 500 pares de sapatos. Isto apesar de terem desaparecido 44 chapeús e 32 caixas onde estavam guardados vários acessórios dos vestidos, peles e toucas. E para quem já está a pensar nas muitas piadas que se contam sobre a (não) utilização de cuecas por parte da imperatriz, Céline Meunier revela, por meio de um sorriso, ao site francês Le Point: "Não, não encontrámos umas únicas cuecas".
Para além dos vestidos e acessórios conservados pelo próprio palácio, a exposição exibe peças mantidas pelos seus descendentes e outras cedidas por colecionadores.
Vítima ou ditadora da moda?
Voltando à Coroação de Napoleão, em 1804, Josefina surpreendeu ao optar por um sumptuoso vestido branco, longo, bordado a ouro, e com cintura pouco abaixo do peito e, algo surpreendente na altura, sem corpete. Era uma das tendências da moda de então, inspirada pela moda do Império Romano, recorrendo em muitos casos a tecidos muito finos, quase transparentes. Uma inspiração, conta a história, alimentada por Napoleão. Ele que dava muita atenção às roupas escolhidas por Josefina para usar em cerimónias públicas "porque a imperatriz representava a corte", assinala Céline Meunier.
"Não se pode dizer forçosamente que Josefina tenha sido uma vítima da moda, mas teria fortes constrangimentos sobretudo nas apresentações oficiais nas quais tinha de mostrar o savoir-faire francês. As senhoras dos outros países prestavam muita atenção ao que vestia, não só para copiarem como para estarem informadas das últimas tendências da moda em Paris", explica a curadora.
Muita da roupa usada por Josefina era criada pelo costureiro Louis-Hippolyte Leroy (como mostram os documentos que dão conta das elevadas somas que todos os anos lhe eram pagas) mas se a imperatriz apreciava a inventividade de Leroy, o mesmo não se passava com algumas das pessoas mais próximas, grupo em que se incluía o próprio Napoleão. Aliás, o Imperador não só seguia com muita atenção as escolhas de roupa de Josefina como muitas vezes fazia questão de estar presente nas provas de vestidos. E terá sido ele quem lançou a moda do uso de lenços finíssimos, de caxemira, que terá levado para França após uma campanha no Egito. Josefina, que chegou a ter 70 desses lenços, foi uma das grandes embaixadoras dessa nova moda. Resta saber se de forma voluntária.