Entrada gratuita na Cinemateca Júnior para festejar 10 anos

A Cinemateca Júnior celebra 10 anos de vida. Para a festa, hoje, a entrada é gratuita na exposição e nos ateliers. À tarde, passa um filme de Charlie Chaplin.
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As máquinas que recebem os mais novos no Palácio Foz, em Lisboa, convidam a tocar em botões, espreitar óculos, rodar... São uma amostra da exposição da Cinemateca Júnior, a filha mais nova da Cinemateca Nacional, a celebrar dez anos de existência este mês. Hoje, a pensar nisso, a entrada é gratuita entre as 11.00 e as 13.00. À tarde, é exibido

Fotografia, projeção e movimento. É assim que está dividida a exposição da Cinemateca Junior, começando nos primórdios do cinema com as imagens de Daguerre, a espingarda de Étinenne-Jules Merey e outra parafernália que havia de dar origem ao cinema como o conhecemos.

Uma tela de projeção leva-nos até ao universo dos irmãos Lumière e a essa primeira projeção, em 1895, em Paris, graças aos irmãos Lumière. Dois anos depois, Aurélio Paz dos Reis, cuja máquina de filmar - o Kinematografo Portuguez - se pode ver aqui, fez Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança, repetindo o gesto dos irmãos franceses, na fábrica da família, em Lyon. É um dos três filmes deste revolucionário, republicano e floricultor que estão nos arquivos da Cinemateca.

Também aqui está o kinetoscope de Edison - uma moeda na ranhura e, pelo óculo, podia ver-se uma cena em movimento, pintada à mão. Neste caso, é uma bailarina e o que se vê é o esvoaçar das suas roupas. Esta relíquia, propriedade da Cinemateca Portuguesa ou aqui em depósito como outras, foi, no seu tempo, atração de feira, como explica Neva Cerantola. "Veem-se destas em filmes do Charlot", conta.

Outro exemplar da época a que se costuma chamar pré-cinema é aquele metro e meio de caixa de madeira com dois óculos grandes, em que as pessoas podiam ver desenhos "animados". Segundo a maneira como eram iluminados, davam a ilusão do dia ou da noite. Há uma vitrina repleta deles. Outra mostra exemplares de vidros pintados usados na lanterna mágica. Na sala de cinema da Cinemateca Júnior resiste, e funciona, uma delas.

O atelier Lanterna Mágica é já um clássico da programação. Depois de verem os filmes, os miúdos desenham as suas histórias em acetato, conta a italiana Neva Cerantola, que aqui trabalha desde 2008. A Cinemateca Júnior começou um ano antes (a primeira sessão foi no dia 20 de abril), "e tem vindo a crescer", afirma. Chega a cerca de 10 mil crianças e jovens, mas a responsável fala dos números com pinças, porque não é a pensar neles que se trabalha. "Não é como um evento de dois ou três dias na cidade, em que se vai naquela altura e não se vai mais", reflete.

A programação, também da responsabilidade de Antónia Fonseca, é feita para miúdos dos 5 aos 10 anos e adolescentes. "Os mais pequenos são mais recetivos", considera Neva Cerantola. "São exigentes mas aderem". Os adolescentes"já vêm com mais pressão social, com gostos definidos". Mas não é impossível. "Há miúdos que agora já vão às sessões da Barata Salgueiro", conta. "Este é um projeto de resistência", frisa. "E a longo prazo".

A Cinemateca Júnior nasceu para "dar a conhecer o património cinematográfico, mostrar a história do cinema", sublinha Neva Cerantola. E, também, "abrir horizontes em relação a uma programação não-comercial" (aqui só passam filmes que estão no ANIM - Arquivo Nacional da Imagem em Movimento), explicar de onde vem o cinema e ainda "dar a ver o cinema numa sala de cinema". Esta, com um pequeno balcão, também é história.

Até 1981, antes da Cinemateca Portuguesa se mudar para a sua atual sede, na rua Barata Salgueiro, era aqui que se guardava a memória do cinema. A Cinemateca, então Nacional, nasce em 1948, integrada nos serviços do Secretariado Nacional de Informação (SNI). Era qui que os censores viam os filmes, conta a responsável. Antes disso foi o Salão Central, inaugurado em 1908, e segundo um anúncio de época, "o mais elegante, luxuoso e deslumbrante" de todo o país. Já fazia matinées dedicadas às crianças.

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