Uma pessoa resolve arrumar de uma vez por todas os DVD que nem consegue ver porque o leitor está avariado há séculos, guardado no mesmo lugar do leitor de cassetes de vídeo, igualmente inerte. Vem-lhe à memória a máquina de filmar com que o pai registava momentos bons (e menos bons e muitas vezes hilariantes) da vida familiar. As bobines com o filme eram enviadas para revelar e depois enchiam a casa de gargalhadas, sempre depois de refeições, porque se há coisa que junta pais, filhos e netos são almoços e jantares em casa. Havia o projetor com o seu ruído de máquina de costura, desaparecido, e as bobines de película com imagens que foram transpostas para outro suporte..Os inúteis DVD foram uma ótima novidade até que passaram a ser vendidos com os jornais ao preço da chuva. Resta-lhes o mesmo destino das cassetes de vídeo, com a vantagem de terem caixas muito menos volumosas. Material com embalagem de plástico que é um verdadeiro embaraço: o que fazer com isto tudo?.O mesmo em relação à música. Usávamos bobines de fita castanha, depois cassetes com a mesma fita castanha mas mais fininha, depois CD e agora não precisamos de nada disso. As coisas continuam a perseguir-nos pela casa, insistentes e a ocupar espaço. E ainda restam os LP em vinil que não conseguimos deitar fora - sabe-se lá se voltamos a comprar um gira-discos..Enfim, uma pessoa está farta do pó de CD e DVD e cassetes e respetivos leitores e socorre-se do computador que faz tudo isso e ainda dá para saber notícias. Tudo se complica. As histórias dos últimos dias são terríveis (ganhar 5,40 euros no Totoloto não tem categoria para boa-nova). As mortes nos incêndios da Grécia. Florestas nórdicas a arder. Uma barragem que rebenta no Laos. As revoltas esmagadas na Nicarágua. Os assassínios regressados à Colômbia. Um atentado num comício no Paquistão. Um atentado em Toronto. A Palestina, sempre. Centenas e centenas de mortos e desaparecidos..Fuga para a frente, ainda no computador: procurar curiosidades como "As mentiras que nos ensinaram na escola". Então não é que o arco-íris não tem sete cores mas milhões de tonalidades? E que os diamantes não são feitos de carvão? E que ninguém sabe muito bem o que são os sentidos, mas é garantido que não são cinco? E que afinal no espaço há (alguma) gravidade? Tudo isto bem explicado e a dar cabo das certezas, deixadas a um canto como os leitores de vídeo e de DVD, enquanto os olhos começam a picar com tanta luz a sair do ecrã..O melhor é pegar num livro de um autor indiscutível. Há alturas em que a ficção é muito melhor do que a realidade.
Uma pessoa resolve arrumar de uma vez por todas os DVD que nem consegue ver porque o leitor está avariado há séculos, guardado no mesmo lugar do leitor de cassetes de vídeo, igualmente inerte. Vem-lhe à memória a máquina de filmar com que o pai registava momentos bons (e menos bons e muitas vezes hilariantes) da vida familiar. As bobines com o filme eram enviadas para revelar e depois enchiam a casa de gargalhadas, sempre depois de refeições, porque se há coisa que junta pais, filhos e netos são almoços e jantares em casa. Havia o projetor com o seu ruído de máquina de costura, desaparecido, e as bobines de película com imagens que foram transpostas para outro suporte..Os inúteis DVD foram uma ótima novidade até que passaram a ser vendidos com os jornais ao preço da chuva. Resta-lhes o mesmo destino das cassetes de vídeo, com a vantagem de terem caixas muito menos volumosas. Material com embalagem de plástico que é um verdadeiro embaraço: o que fazer com isto tudo?.O mesmo em relação à música. Usávamos bobines de fita castanha, depois cassetes com a mesma fita castanha mas mais fininha, depois CD e agora não precisamos de nada disso. As coisas continuam a perseguir-nos pela casa, insistentes e a ocupar espaço. E ainda restam os LP em vinil que não conseguimos deitar fora - sabe-se lá se voltamos a comprar um gira-discos..Enfim, uma pessoa está farta do pó de CD e DVD e cassetes e respetivos leitores e socorre-se do computador que faz tudo isso e ainda dá para saber notícias. Tudo se complica. As histórias dos últimos dias são terríveis (ganhar 5,40 euros no Totoloto não tem categoria para boa-nova). As mortes nos incêndios da Grécia. Florestas nórdicas a arder. Uma barragem que rebenta no Laos. As revoltas esmagadas na Nicarágua. Os assassínios regressados à Colômbia. Um atentado num comício no Paquistão. Um atentado em Toronto. A Palestina, sempre. Centenas e centenas de mortos e desaparecidos..Fuga para a frente, ainda no computador: procurar curiosidades como "As mentiras que nos ensinaram na escola". Então não é que o arco-íris não tem sete cores mas milhões de tonalidades? E que os diamantes não são feitos de carvão? E que ninguém sabe muito bem o que são os sentidos, mas é garantido que não são cinco? E que afinal no espaço há (alguma) gravidade? Tudo isto bem explicado e a dar cabo das certezas, deixadas a um canto como os leitores de vídeo e de DVD, enquanto os olhos começam a picar com tanta luz a sair do ecrã..O melhor é pegar num livro de um autor indiscutível. Há alturas em que a ficção é muito melhor do que a realidade.