Ensino superior
O Ministério da Educação pediu novo esforço de rigor orçamental às instituições de ensino superior. E se um corte oficial de 1,5% nas despesas de 2015 parece aceitável nestes tempos de austeridade, a verdade é que há razões para universidades e institutos politécnicos se queixarem e afirmarem mesmo que é impossível cumprir com as novas exigências do Executivo PSD-CDS. Afinal, há uma década que se acumulam as restrições orçamentais no ensino superior, que começaram ainda durante os mandatos do Governo PS.
Na argumentação dos presidentes dos politécnicos e dos reitores, a situação é dramática e até apontam os problemas orçamentais do ano em curso, pois a suspensão dos cortes salariais na função pública trouxe implicações não previstas, com mais gastos do que o estimado. Por isso se percebe da parte do ministério a disponibilidade para dialogar, de modo a evitar situações de rutura.
De tudo isto fica uma vez mais a necessidade de ajustar as necessidades do País às suas capacidades financeiras, pois também no ensino superior houve, em alguns momentos, excessiva expansão do sistema. Mas uma preocupação deve ser central: a preservação da qualidade do ensino superior, já que o País tem ainda caminho a percorrer em termos de formação da população, pois só 25% dos jovens portugueses entre os 25 e os 34 anos concluem estudos superiores, enquanto a média na OCDE anda nos 38%.
Sanções e retaliações
Todas as crises internacionais provocam danos colaterais. O conflito entre a Rússia e a Ucrânia não é exceção. À medida que a União Europeia e os Estados Unidos começaram a impor sanções a personalidades e alvos económicos e outros da Rússia, Moscovo teria de responder, como fez, retaliando sobre áreas onde o impacto não deixaria de preocupar o poder político e setores de atividade sensíveis. A escolha da área agroalimentar foi uma decisão pensada para produzir efeitos específicos e perturbações num setor em que o valor criado não depende tanto do valor original do bem, mas da distância a que este pode chegar, em condições de agregar mais-valias e lucro ao produtor, e da dimensão do mercado. E em que alternativas logísticas não são imediatas, além da pressão dos interesses do setor sobre o poder político nos respetivos países e, no caso europeu, Bruxelas.
No passado, Moscovo recorreu a comportamentos semelhantes aos seguidos agora face à multinacional americana McDonald"s, que se abastece em grande parte junto do produtor russo e que considera este mercado como estratégico nos seus planos de crescimento. Não é de descartar eventuais incumprimentos de normas de segurança e higiene alimentar, mas os restaurantes visados em Moscovo (num total de 435 em toda a Rússia) são simbólicos, em especial o situado na Praça Puchkine. Quando abriu, era exemplo claro de quem ganhara a Guerra Fria: revejam-se as imagens das longuíssimas filas fixadas nas fotos da época. Esta é uma imagem que se quer apagar no Kremlin.