Ensino superior como promotor/dinamizador de coesão territorial
O ensino superior está claramente em alta. No ano em que se bateram todos os recordes de candidatos, os últimos dez dias, com a tomada de posse dos executivos autárquicos para o próximo mandato 2021-2025, confirmou o ensino superior como um dos maiores valorizadores do território.
Foram muitos os presidentes de câmara municipal eleitos que, no seu discurso de posse, mencionaram acordos, ou simplesmente vontade, para terem ensino superior no seu concelho. Numa altura em que tanto se fala de subfinanciamento do setor, não deixa de ser interessante que o poder local veja o investimento no ensino superior como uma forma de valorizar o seu trabalho e o seu território.
Ninguém nega que os autarcas que assim pensam estão no caminho certo, pois os factos provam que os concelhos com ensino superior aumentam a fixação de pessoas e de empresas, gerando, consequentemente, riqueza e valorização social.
O ensino superior tem contribuído para o desenvolvimento do território, aumentando a competência disponível e formando pessoas que, em muitos casos, não poderiam ter estudado fora da sua residência habitual. Este é um meio de promover a coesão territorial e a equidade para os que querem estudar.
Mas este ensino descentralizado depende das condições que as instituições de ensino superior encontram para se instalarem fora das suas sedes, já que, por si, não têm condições financeiras para o fazer. Tal só é possível com apoio (muito apoio) das autarquias locais, nomeadamente com a cedência de edifícios e da sua manutenção, mas muitas vezes com outros apoios que vão para além das instalações. A descentralização quase sempre implica áreas de ensino com grande poder de captação, que leve alguns a optar por cidades com menor tradição académica e que ainda assim se efetivam através de turmas pequenas, quando comparadas com o que é possível nos grandes centros.
Importa, pois, que todos saibam que a coesão territorial, que tão abraçada tem sido pelas instituições de ensino superior, nomeadamente pelos institutos politécnicos, tem um elevado preço que estas não conseguem suportar e que só será possível se as autarquias ou o governo central estiverem disponíveis para o fazer.
Portugal precisa de mais literacia, mais competência, mais coesão territorial, e todos parecem reconhecê-lo, mas as vontades implicam conjugação de interesses e, obviamente, financiamento. E também que se continue a acreditar que a liberdade de ensinar e aprender não se pode consubstanciar no aumento de alunos nas grandes áreas metropolitanas, mas antes em ofertas de proximidade territorial com elevada qualidade e diversidade.
Presidente do Instituto Politécnico de Coimbra