Enganou amigos e familiares

Durante um mês Sónia Viegas sofreu com o desaparecimento do homem a quem encomendou a morte
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Aos olhos de amigos e familiares, Sónia Viegas, 36 anos, era uma mulher desfeita. No último mês, de corpo mais magro, as horas eram passadas à espera de um telefonema ou de um qualquer sinal do noivo, desaparecido desde 6 de Abril da sua casa, em Setúbal. Foi nisto que os amigos acreditaram até a PJ a confrontar com contradições no seu testemunho e a deter. Afinal Sónia foi quem deu ordens a um amigo para o matar.

Luís Neves, também de 36 anos, foi o primeiro amor de Sónia. Mas quis o destino, revelam fontes próximas, que seguissem vidas separadas. Já no final de 2008, os dois reencontraram-se - cada um com um filho. Ele estava divorciado e ela não hesitou em separar-se e correr atrás dele. Luís comprou- -lhe "a casa dos sonhos dela", próxima da família dele, em Setúbal. E durante um ano "tiveram uma vida perfeita", refere uma amiga.

Em Janeiro, Sónia começou a afastar os amigos. Rejeitava chamadas telefónicas e dizia que o seu relacionamento estava a passar uma fase difícil. Chegou mesmo a justificar que era Luís quem dizia para ela não falar com os amigos. Sónia sofreu crises de ansiedade, tomou medicação e acabou por confessar às amigas mais próximas que o noivo mantinha um relacionamento com outra pessoa.

No dia 7 de Abril disse aos amigos que o noivo não tinha regressado a casa no dia anterior. Alegou que terá sido essa a forma de pôr um ponto final no relacionamento sem uma conversa prévia. Insinuou até que a família era conivente com o seu desaparecimento súbito. Os amigos acreditaram e apoiaram-na sempre. Aliás, ainda ontem à tarde permaneciam à porta do Tribunal de Setúbal.

A família de Luís terá tido um pressentimento. A primeira me-dida que tomou foi expulsá-la de casa e mudar a fechadura. Depois participou o caso às autori- dades. Segundo fonte da PJ, assim que o caso chegou às suas mãos, suspeitou-se logo de crime.

O carro da vítima, um Mazda, desaparecera misteriosamente. Não havia movimentos bancários e o último registo da Via Verde indicava que Luís regressara naquela noite de Lisboa, onde trabalhava como sócio da empresa de informática Arquiconsult, em Telheiras. Também não havia qualquer movimento bancário.

Os amigos de Luís fizeram circular um e-mail com a sua fotografia pela Internet, mas a PJ não permitiu que dessem qualquer pormenor sobre a investigação nem sequer colocou a imagem na sua página oficial. Faltavam algumas peças para derrubar a versão de Sónia, que garantia que o noivo não regressara a casa. Os registos de telemóvel do desaparecido e o e-mail que enviou a um cliente ainda na noite de 6 de Abril vieram contrariar o testemunho de Sónia.

Faltava saber a quem ela pediu ajuda. Os seus amigos (homens e mulheres) foram chamados à PJ para prestar declarações e obrigados a deixar impressões digitais.

A PJ acabou por descobrir que Sónia pediu ajuda a um colega de trabalho, da Prossegur, que era apaixonado por ela. Foi a ele que ela abriu a porta de casa para atacar Luís enquanto ele dormia. Drogaram-no com éter. Depois transportaram-no no próprio carro até à à zona da 7.ª Bateria do Outão, na Arrábida. Luís terá sido morto a tiro e enfiado na bagageira do carro. Foi até aqui que Sónia conduziu a PJ anteontem quando já não conseguia esconder mais o crime que cometeu.

Os familiares e amigos de Sónia Viegas ainda guardam uma réstia de esperança quanto à veracidade da história. Ontem, depois de o juiz de instrução do Tribunal de Setúbal aplicar a prisão preventiva a Sónia e ao seu amigo, resignaram-se, admitindo que "resta aguardar pelo julgamento e, se for mesmo verdade, pedir desculpas à família do Luís".

Os dois suspeitos foram sujeitos a largas horas de interrogatório, que terminou pelas 16.00. À porta do tribunal, apenas duas amigas aguardavam à distância e em silêncio. Admitiram que Sónia andava "muito instável" há várias semanas, o que todos atribuíam ao facto de Luís Neves estar desaparecido. "É preciso ver que não foi ela que o matou e que a Sónia colaborou com a polícia. Vamos lá ver o que isto ainda dá."

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