Empresa vendeu implante vaginal apesar de alertas para as dores que provocaria
Um implante vaginal fabricado pela Johnson & Johnson foi lançado no mercado e esteve à venda durante sete anos apesar de os funcionários da empresa farmacêutica terem expressado a sua preocupação em relação ao material usado. Tudo porque suspeitavam que a malha de plástico utilizada podia encolher e endurecer dentro do corpo das mulheres, causando dor.
A informação é revelada pelo The Guardian, que teve acesso a centenas de emails entregues a um tribunal norte-americano, que está a julgar a queixa de Suzanne Emmett, de 60 anos, da Pensilvânia, que sofreu complicações traumáticas graças ao implante Prolift.
Emmett está a processar a Johnson & Johnson, depois de ter precisado de nove cirurgias corretivas e de ter lidado com dor constante quando o implante lhe perfurou a vagina. A empresa nega as acusações de que foi negligente e que não avisou os médiso para os potenciais riscos do seu produto.
Este foi lançado nos EUA em 2005, sem a aprovação do regulador, que só lhe deu luz verde três anos depois, após ser alertado para a sua existência no mercado. A empresa farmacêutica alegou que os implantes eram semelhantes a outros que existiam no mercado e que por isso acreditava não ser preciso aprovação.
O Prolift era usado nos casos de prolapso dos órgãos pélvicos, que ocorre quando há um enfraquecimento dos músculos que podem levar a uma descida ou até exteriorização da bexiga, útero ou reto.
O The Guardian é um dos órgãos de comunicação que trabalha com o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI), que acaba de publicar as chamadas "The Implant Files". A investigação foi conduzida por mais de 250 jornalistas de 36 países, que analisaram milhares de documentos, concluindo que lacunas no controlo de dispositivos médicos - como 'pacemakers', implantes mamários, contracetivos ou próteses de anca - provocam cada vez mais complicações, difíceis de quantificar e identificar. Nos EUA, estima-se que complicações com este tipo dispositivos terão causado 82 mil mortes e 1,7 milhões de feridos, em dez anos, cinco vezes mais do que em 2008.
Portugal não recebeu qualquer notificação de causa e efeito relativamente aos dispositivos médicos cuja falta de segurança é referenciada nessa investigação. Neste sentido, "os portugueses podem estar descansados", referiu ao DN o assessor de comunicação do Infarmed, Autoridade Nacional da Farmácia e do Medicamento.
A mesma fonte sublinhou que Portugal e Malta foram os únicos países que não foram contactados pelo consórcio, argumentando que "temos uma entidade estatal que regulamenta e que fiscaliza, desenvolvendo uma vigilância apertada e constante. Todos os dispositivos que entram no mercado têm de ser aprovados."