Empresa arrasta multinacionais para escândalo de corrupção
Há mais um escândalo de corrupção a agitar a indústria petrolífera. E, ao contrário do caso da brasileira Petrobras - concentrado no país de origem -, este é um escândalo à escala mundial, com e-mails com palavras e nomes em código, e que envolve subornos pagos por uma empresa sediada no Mónaco a elementos dos governos e ministros do Iraque, Irão ou Cazaquistão em nome de grandes multinacionais - como a Samsung ou a Rolls Royce - para que estas ganhassem contratos nesses países.
A notícia foi avançada na semana passada pelo norte-americano Huffington Post e a australiana Fairfax Media e tem como personagem principal a Unaoil, uma empresa constituída nas Ilhas Virgens Britânicas pela família Ahsani e sediada no Mónaco, onde a polícia já esteve na sexta-feira a fazer buscas, no seguimento de um pedido dos serviços de fraude britânicos.
"As autoridades do Mónaco conduziram buscas nas casas dos líderes da empresa Unaoil e na sede da empresa no principado", pode ler--se num comunicado do governo, citado pelo jornal australiano Sydney Morning Herald.
Que companhia é esta?
Não é uma petrolífera, mas uma espécie de consultora ou intermediária à qual as empresas, principalmente ocidentais, pedem ajuda em negócios no Médio Oriente, África ou Ásia, regiões onde há uma forte indústria petrolífera. Foi fundada em 1991 por Ata Ahsani, um engenheiro iraniano que se mudou para a Europa pouco depois da revolução de 1979 no Irão, e que é hoje presidente da empresa. O diretor executivo é o filho Cyrus, um socialite no Mónaco, e o diretor de operações é outro filho, Saman, uma figura de relevo na comunidade iraniana de Londres.
Depois de uma investigação de seis meses e de uma série de e-mails a que os jornalistas tiveram acesso, o jornal americano denuncia que a Unaoil terá subornado membros dos governos do Iraque ou do Cazaquistão para que atribuíssem contratos e negócios aos clientes da Unaoil.
Uma prática que terá ocorrido durante mais de dez anos e envolve empresas como a coreana Samsung, a britânica Rolls Royce, a fabricante alemã de camiões MAN ou ainda a construtora norte-americana KBR e a fabricante de aviões e outras máquinas industriais Honeywell.
Estas empresas pagavam uma percentagem dos contratos e a Unaoil usava parte destas verbas para os subornos necessários. Tanto a Unaoil como algumas das empresas envolvidas desmentem as acusações e qualquer prática ilegal. "A KBR está empenhada em conduzir o seu negócio de forma honesta, com integridade, e cumprindo todas as leis", disse aos dois jornais uma porta-voz do grupo norte-americano.
Já a Samsung garante que "sempre cumpriu a lei e os regulamentos quando faz negócios" e a Rolls Royce diz estar a "cooperar com as autoridades" e que, por isso, "não comenta investigações em curso", mas ressalva que "não tolerará má conduta de qualquer forma". Já em 2013, a marca britânica enviou uma carta a uma subsidiária da Unaoil a cancelar o acordo por suspeitar de corrupção.
As investigações ainda não esclareceram se as multinacionais não sabiam do esquema de corrupção, o que não impede que venham agora ser investigadas neste caso.