Emprego e Inovação - que futuro?
Recentemente a edição de 2021 do European Innovation Scoreboard (EIS) - que faculta uma avaliação comparativa do desempenho da investigação e inovação dos Estados-Membros da União Europeia (UE) - mostra que o desempenho da inovação continua a melhorar em toda a UE mas, pela primeira vez desde 2014, a economia portuguesa caiu neste ranking, surgindo agora na 19.ª posição, enquanto em 2020 se encontrava no 12.º lugar. A economia portuguesa deixa, assim, de ser considerada "fortemente inovadora" e passa a ser classificada como "moderadamente inovadora".
Ora, este é um tema que deve assumir centralidade nas atuais políticas públicas e, em particular, nas políticas de investimento nacional para os próximos anos. Esta década será especialmente exigente a nível socioeconómico, em particular impondo um esforço de inovação, mas a verdade é que, demograficamente, o país encontra-se extremamente envelhecido e isso condicionará o seu desenvolvimento. Atente-se especialmente nos dados demográficos divulgados pelo INE que revelam a muito preocupante situação demográfica do país: o número médio de filhos, de mulheres e homens, passou de 1,03 em 2013 para 0,86 em 2019. Acresce que uma parte expressiva das mulheres e dos homens com filhos (45,1% e 58,5%, respetivamente) tiveram o 1.º filho mais tarde do que desejavam e os motivos mais apontados para este adiamento da parentalidade estão relacionados com a estabilidade financeira e no emprego e com as condições da habitação. A este problema da natalidade acresce o da emigração. Ao longo da última década a população residente em Portugal tem vindo a diminuir, em resultado da conjugação do saldo natural e do saldo migratório, em razão de um acentuado crescimento do volume da emigração.
Citaçãocitacao"Um país que não mostra capacidade para reter os mais qualificados está a comprometer o seu futuro."esquerda
Assim, caberá realçar que só a implementação de políticas públicas que permitam, simultaneamente, criar boas condições de trabalho, aumentar a produtividade no trabalho e elevar os salários médios, permitirá um incremento da inovação e, consequentemente, o desenvolvimento do país. Em particular porque estamos ante uma transformação da economia por via da digitalização, articulando as dimensões da inovação empresarial, da inovação no capital humano e, ainda, da inovação das instituições. Daí a necessidade de implementar uma política estratégica de desenvolvimento em Portugal na qual assuma protagonismo a valorização do conhecimento, da ciência, da tecnologia e da inovação, assim como a atratividade dos territórios articulada com os objetivos de coesão social.
Nesta medida, sabendo-se que o aumento da inovação depende crucialmente da capacidade que o país tiver em manter os jovens qualificados em território nacional, importa incentivar a atividade científica e a investigação, com os objetivos de encorajar o investimento, capitalizando infraestruturas e recursos humanos qualificados existentes em Portugal, criando dinâmicas de empregabilidade, assim como implementar boas práticas que permitam construir uma nova identidade económica.
Um país que não mostra capacidade para reter os mais qualificados está comprometer o seu futuro. Daí que urja compreender que a promoção de inovação passa não só por um investimento contínuo na educação, ciência e na formação, como também em facultar melhores condições de trabalho à população ativa.
Professora universitária e investigadora