Empreendedorismo, sustentabilidade e equidade - ou a ousadia aplicada à política local

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O facto de as palavras que dão título a este artigo serem tão comuns no discurso público não significa que estejam gastas, que não tenham valor, ou que pouco signifiquem.

Empreendedorismo, enquanto referencial de ação política, traduz uma forma ousada de considerar os diversos agentes, sejam eles económicos, do setor social, cultural ou educativo, dando-lhes as condições ideais para serem competitivos e capacitados. Se este atributo sempre foi um fator distintivo, hoje significa atuar não apenas num espaço local, nacional e global, de forma informada. Pensar global e agir local é o imperativo categórico das sociedades em transformação - ignorá-lo sair-nos-á caro.

Nenhum desenvolvimento deve ser, contudo, cego em relação aos fatores da sua sustentabilidade, seja ela económica, social ou ambiental. As últimas décadas têm mostrado, com clareza, os custos sociais, ambientais e económicos, resultantes de estratégias de desenvolvimento sem planos integradores e multidisciplinares.

A ação política exige ainda perseguir os mais elevados padrões de equidade e de transparência. Significa isto que devem ser combatidas todas as formas de desigualdade e de arbitrariedade que minam e descredibilizam a própria ação política. Esta é das mais sérias ameaças à democracia, geradora de desconfiança e de desinteresse em relação às instituições políticas, inibindo a participação cívica.

Pensemos na aplicação destes valores aos vários domínios da nossa vida coletiva: na economia, no ambiente ou no âmbito social. Pensemos em políticas alinhadas e enquadradas na estratégia de desenvolvimento regional, nacional e internacional, com especial enfoque nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030.

Por fim, apliquemos tudo isto à política local, o mais humanizado dos poderes da República.

No Município da Mealhada, pensamos nas três palavras que organizam este artigo aplicadas ao apoio à economia local; à recuperação dos espaços públicos; ao urbanismo; à valorização dos recursos naturais, criando a partir deles mais-valias ambientais, turísticas e de lazer. Pensamos na criação e no desenvolvimento de polos de excelência na área do conhecimento e das indústrias criativas. Pensamos no potencial existente na nossa rede associativa (cultural, desportiva, social): no que dela se poderá extrair se encontrar no poder público um parceiro estratégico fiável, que não se limite a permitir sobreviver, mas que ajude a crescer. E, por fim, contamos com um corpo de funcionários competentes, motivados, orientados para o bem comum e que partilham a paixão pela sua terra.

Voltemos à importância das palavras que encabeçam este artigo.

Não possuem a força de um slogan e não apontam soluções fáceis. Ensina a gestão pública que são as decisões políticas que criam os meios para que uma comunidade tenha aquilo que a realiza. São palavras marcadas pela ousadia? Afirmava há quase um século o nosso Fernando Pessoa que "tudo é ousado para quem a nada se atreve".

Presidente da Câmara Municipal da Mealhada

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