Empreendedorismo 2030 Portugal precisa de uma nova perspetiva para o empreendedorismo

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Sou empreendedor desde quando pouco se falava de empreendedorismo. No final da década de 1990, com o António Murta, o Epifânio da Franca e o Paulo Rosado, entre outros, fomos pioneiros na construção de empresas tecnológicas que ambicionavam um papel relevante a uma escala além de Portugal.

Quando no início do ano 2000 fundei a MobiComp, a minha primeira aventura empreendedora, Portugal estava muito longe de ser um país reconhecido pelas suas startups, a sua tecnologia e inovação, ou por ter um ambiente favorável ao desenvolvimento de novas empresas inovadoras e tecnológicas.

Os progressos alcançados nestas duas décadas são assinaláveis. Passou a olhar-se para os empreendedores de outra forma (por vezes demasiado romântica). Surgiram políticas públicas a nível nacional e europeu para ajudar no desenvolvimento do empreendedorismo. Evoluiu a indústria de capital de risco nacional. Foram criadas muitas startups. As que cresceram e hoje valem milhares de milhões de euros e criam emprego relevante em Portugal tiveram, na sua maioria, que se sedear fora do país para estarem nos contextos mais competitivos do mundo, nomeadamente perto dos investidores internacionais e em regimes fiscais mais apelativos.

Para onde precisamos de caminhar até ao fim desta década?

Para um Portugal onde se transformem muitas startups inovadoras em empresas de escala, que sejam as novas médias e grandes empresas do país. Onde existam mais Exits e IPOs que potenciem o efeito semente e multiplicador de investimento. Que estas novas empresas com escala criem emprego, que sejam indutoras do aumento da produtividade nacional, que paguem bons salários, que exportem muito e que ajudem ao desenvolvimento económico e social do país.

Aponto cinco áreas que considero fundamentais para que se concretize uma nova fase de desenvolvimento do empreendedorismo em Portugal.

· Os empreendedores devem assumir definitivamente que uma startup tem de ser encarada como um estado transiente e não o fim em si mesmo. Saber decidir quando é altura de parar um projeto e passar para o seguinte é central. Estender artificialmente a vida de startups inviáveis não é bom nem para o empreendedor, nem para o país.

· Uma clara aposta em impacto real e de larga escala na economia, medido por criação de emprego, volume de exportações e peso relevante no PIB. Temos bons exemplos de que isso é possível. É agora necessário multiplicá-los para que este impacto seja importante na economia do país.

· Precisamos que estas empresas inovadoras sejam o motor da produtividade do país. Para isso é fundamental que mantenham a sua sede em Portugal e que vendam a partir de Portugal com alto valor acrescentado e não utilizem preços de transferência para um outro país fiscalmente mais apelativo. Para que tal aconteça Portugal tem que ser competitivo a nível fiscal, ter um sistema de justiça que funcione (em tempo útil) e acesso a capital em escala.

· É crítico reter o talento no país (trabalho remoto para empresas no estrangeiro é uma nova forma de emigração) e aumentar substancialmente o talento disponível, seja por via do aumento da formação de base, ou ao longo da vida, seja pelo aumento significativo de imigração qualificada. Num mundo em que a concorrência pelo talento é global, só com bons salários e bons regimes, por exemplo para as stock options, será possível alcançar tal desígnio.

· Apesar da evolução do capital de risco em Portugal ser positiva, continuamos a precisar de desenvolver a indústria nacional e de atrair mais investidores internacionais para os projetos nacionais. Reforçar esta indústria passa acima de tudo por assegurar um level playing field competitivo e por aumentar o número de players credíveis inseridos em redes internacionais de investidores fortes.

Já se provou que é possível fazer empreendedorismo de escala a partir de Portugal. Nesta nova fase é necessário fomentar a passagem de muitas startups a scale ups. Para que tal aconteça há muito para evoluir para nos tornarmos verdadeiramente competitivos e nos adaptarmos às mudanças que estão a ocorrer no mundo.

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