Emerson entra na política com o sonho de ser prefeito de Japeri

O antigo médio de Belenenses e FC Porto é sócio de Djalminha, outra antiga estrela brasileira, no ramo do imobiliário, mas tem planos para melhorar o município da sua cidade
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As longas tranças são ainda hoje a imagem de marca de Emerson, antigo médio que chegou a Portugal em 1992 para representar o Belenenses e que, dois anos depois, assinou pelo FC Porto. Após uma carreira longa na Europa, com passagens por Inglaterra, Espanha, Escócia, Grécia e Chipre, regressou às origens, mais concretamente à cidade de Japeri, no interior do estado do Rio de Janeiro, no Brasil.

"Atualmente estou no ramo imobiliário, sou sócio do Djalminha, que jogou comigo no Deportivo da Corunha, e investimos em terrenos que depois são utilizados por empresas de construção civil para construir apartamentos", revelou Emerson ao DN, ao mesmo tempo que admitiu ainda manter uma pequena ligação ao futebol. "De vez em quando indico uns jogadores para os meus amigos, mas não têm sido muitos, pois tenho uma reputação a defender e não há muitas joias por aí", diz com uma gargalhada à mistura, revelando que "não quis ser empresário porque há muitos".

Na base das suas observações estão jovens de "16, 17 ou 18 anos". "Indico-os para clubes da II Divisão de Espanha, para a Grécia ou até para Portugal." Quanto aos mais jovens, encaminha-os "para clubes brasileiros".

Mas o grande projeto da vida de Emerson passa pela política. "No ano passado concorri às eleições para prefeito [presidente de câmara municipal] da minha cidade, Japeri, mas foi apenas para ganhar alguma experiência", revelou, assegurando que voltará às urnas: "Vou concorrer às eleições para deputado estadual no ano que vem."

Mercinho, nome com o qual concorre às eleições, pretende ser reconhecido pelos seus eleitores para que um dia possa cumprir o seu grande sonho. "Quero ser prefeito de Japeri porque é um dos piores municípios no que se refere a desenvolvimento humano e gostaria de tentar mudar isso", revela, prometendo ser um forte candidato em 2020, pelo que até essa altura irá "preparar as ideias" para apresentar no seu programa eleitoral.

De Portugal diz ter "muitas saudades". "É por isso que todos os anos vou até aí, pois tenho a minha irmã em Lisboa e o meu filho no Porto", esclarece, revelando que o filho Michel "estuda Educação Física no ISMAI, na Maia". "Ele tentou ser jogador, mas não deu. Começou no Pedrouços, esteve no Leixões, no Rio Ave, no Maia, mas agora só joga por lazer", refere, gracejando de imediato: "Se fosse um terço do que eu era, já seria bom."

O antigo médio reconhece que ser futebolista é algo complicado para quem cresce na sombra de um pai que teve sucesso. "É porque eles não sabem quanto os pais tiveram de se sacrificar. Não se esforçam tanto porque não precisam de um prato de comida, como a maioria dos garotos que chegam longe no futebol. O Cristiano Ronaldo foi assim."

Emerson tinha 20 anos quando chegou a Portugal, em 1992, para o Belenenses, acabado de regressar à I Divisão: "Eu fiz a minha formação no Flamengo e tinha ido para o Coritiba nesse ano, quando apareceu o Belenenses, que era treinado pelo saudoso Moisés Andrade." O técnico, recentemente falecido, "só esteve dois meses" no cargo, tendo sido substituído por Abel Braga. Foram dois anos no Restelo, após os quais despertou a cobiça dos grandes.

"Falou-se muito do Benfica, inclusive o Toni, que era o treinador na altura, disse numa entrevista que eu era um grande jogador, mas tinha a equipa composta", revela, acrescentando que teve a possibilidade de ir para Alvalade. "O Sporting queria-me, mas como o Paulo Sousa foi contratado, vindo do Benfica, acabei por não ir", acrescenta, lembrando que "foi Bobby Robson" que o quis no FC Porto. "Ele tinha sido despedido do Sporting e pediu a minha contratação", revela, considerando que os seus "melhores anos" da carreira foram vividos "no Porto e na Corunha".

Curiosamente, Emerson representou dez emblemas europeus, algo que o antigo médio explica facilmente. "Eu não gostava de ficar mais de dois anos num clube porque os adeptos se cansam de nós...", atira, explicando que as mudanças eram "sempre um desafio". "Nunca me acomodava", frisa.

A seleção e o conselho a Deco

Apesar de ter tido uma boa carreira na Europa, Emerson não esconde alguma tristeza por não ter representado a seleção brasileira. "Esteve perto! Em 1998 eu ainda era um desconhecido e não tinha muitas esperanças, mas em 2002 o selecionador, o Emerson Leão, foi à Corunha e disse que ia chamar-me para um jogo com o Peru, mas não me convocou. Depois ele foi substituído pelo Luiz Felipe Scolari e o meu nome nunca mais foi falado", recorda.

Essa experiência levou Emerson a dar uns conselhos a Deco na hora de fazer a sua escolha. "Disse-lhe para ir para a seleção portuguesa, porque, tal como eu, ele não tinha história no Brasil e seria difícil ser convocado", lembra, admitindo ter-se arrependido de não ter escolhido jogar por Portugal.

"Quando estava no FC Porto falou-se disso, mas eu via a reação dos meus colegas no clube e sabia que a aceitação seria difícil, por isso deixei bem claro numa entrevista que a seleção portuguesa não precisava de naturalizados... E recordo-me bem de que com o Deco foi uma grande confusão", diz, admitindo que "se tivesse sido no tempo de Scolari talvez fosse mais fácil" ter optado por representar a equipas das quinas.

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