Embaixada do Peru faz homenagem a poeta César Vallejo no centenário de poemário
Este ano assinala-se o centenário da publicação do livro de poesia Trilce, escrito pelo poeta peruano César Vallejo, "o poeta mais latino-americano e mais universal do século XX", como diz Carlos Gil de Montes Molinari, o Embaixador do Peru em Portugal, em evento de homenagem esta quinta-feira `noite organizado pela Embaixada do Peru na Casa da América Latina em Lisboa.
Na homenagem foi apresentado o romance biográfico Vallejo en los infiernos do escritor peruano Eduardo González Viaña, que foi acompanhado pelo escritor português Nuno Júdice, em uma conversa sobre César Vallejo, o livro de poesia Trilce, e Vallejo en los infiernos.
O livro Vallejo en los infiernos é um romance que narra os anos formativos de César Vallejo e relata o período entre novembro de 1920 e março de 1921, quando César Vallejo foi detido na prisão pública de Trujillo, acusado de terrorismo após um ato criminoso que teve lugar em Santiago de Chuco, a sua cidade natal, no qual morreram três pessoas.
O escritor deixa claro no seu romance como o "juiz encarregado da investigação foi comprado pelos inimigos do poeta e forjou assinaturas e documentos". Narra também como a polícia "extraiu falsas confissões sob tortura, de modo que, aos 28 anos de idade, acabou na prisão por um período de tempo indefinido onde, diz-se, os prisioneiros saiam mortos ou loucos". Na opinião de Eduardo González Viaña, o objetivo é "aproximar o leitor daqueles dias terríveis, bem como da juventude de Vallejo em Trujillo, para que as utopias do século e os terríveis abusos sociais se alternem com a rebelião anarcossindicalista, a boémia literária e algumas histórias de amor milagrosas".
A discussão de César Vallejo começou com a leitura de um dos seus poemas mais enigmáticos, um poema em que o poeta profetisa o momento da sua morte exatamente 17 anos depois de o ter escrito. Intitulado Piedra negra sobre piedra blanca, Vallejo escreve que morrerá em Paris com aguaceiro numa quinta-feira no outono. E assim aconteceu em 15 de abril de 1938.
Para Eduardo González Viaña, este não é o único enigma que Vallejo deixou para trás após a sua morte. O próprio título do seu livro de poesia Trilce tem sido um problema impossível de decifrar desde a sua publicação, uma vez que a palavra não existe, foi inventada por Vallejo. Em busca do seu significado desde os 17 anos de idade, pesquisando e entrevistando conhecidos do grande poeta peruano, González Viaña encontrou o amigo e mentor de Vallejo, Antenor Orrego, que lhe profetizou não uma vida como poeta, mas como romancista e jornalista que o levaria a escrever sobre César Vallejo. E assim aconteceu em 2007, ano em que foi publicado pela primeira vez Vallejo en los infiernos.
"Imaginem, ele deve ter previsto que um dia estaria a falar sobre este livro aqui em Lisboa," diz o escritor peruano, "mas mesmo quando a minha alma esteja a cruzar os horizontes do universo, continuarei a procurar o Trilce, para sempre."