Em queda livre, Portuguesa espera milagre para não bater no fundo
A Associação Portuguesa de Desportos, clube de São Paulo com origem lusa e histórico do futebol brasileiro - vice-campeão nacional em 1996, vencedor do Torneio Rio-São Paulo [equiparado ao campeo-nato nacional] em 1952 e 1955 e campeão paulista em 1935, 1936 e 1973 - está numa queda a pique, que começou em... dia de festa.
A 8 de dezembro de 2013, empatou em casa (0-0) frente ao Grêmio e assegurou a permanência no Brasileirão. Contudo, ao minuto 78, o treinador Guto Ferreira - já orientou Naval e Penafiel -, marcou um autêntico autogolo, fazendo entrar o médio Héverton, que se encontrava a cumprir o segundo de dois jogos de suspensão e não podia atuar. A substituição valeu a perda de quatro pontos na secretaria e a queda do 12.º para o 17.º lugar, na zona de despromoção. O caso seguiu para os tribunais, onde o emblema paulista alegou não ter sido informado do segundo jogo de castigo, mas a justiça foi implacável, acabando por salvar dois gigantes do Rio de Janeiro, Flamengo e Fluminense.
Daí para cá, a Lusa debateu-se com sérios problemas financeiros - dívidas de 250 milhões de reais (66,75 milhões de euros) e Estádio do Canindé a leilão -, crises diretivas e despromoções consecutivas. Em 2014, caiu na Série C. No ano seguinte, foi relegada à divisão secundária do Campeonato Paulista. No ano passado desceu ao patamar nacional mais baixo, a Série D, e agora corre o sério risco de nem aí poder participar em 2018.
Há uma semana, foi derrotada no terreno do Ferroviária (0-1) e não só perdeu a possibilidade de continuar a sonhar com a promoção à Série C, como só um milagre pode manter o clube no quarto escalão brasileiro. Para concorrer a uma vaga na Série D, a Portuguesa teria de estar na elite do seu estado. Assim sendo, apenas há uma (remota) hipótese em aberto: vencer a Taça Paulista, que começou na sexta-feira e termina a 26 de novembro, precisando de bater a concorrência de 21 equipas para escolher entre a Série D ou participar na próxima edição da Taça do Brasil.
Logo após o desfecho da Série D, o quarto presidente da Portuguesa desde 2013 assumia as culpas em nota publicada no site do clube. "Traçámos alguns objetivos. Dois deles diziam respeito a resgatar a equipa de forma clara e direta: acessos à Série A-1 do Campeonato Paulista e à Série C. Ambos não foram alcançados, frustrando os nossos anseios. A responsabilidade pelo insucesso cabe a mim, Alexandre Barros. Fui o responsável direto pela montagem e remontagem dos plantéis, trocas das equipas técnicas, contratações e dispensas e por todo o plano de trabalho que se tornou ineficaz pela minha incompetência", escreveu o líder, filho de um português, assumindo a participação na Taça Paulista como um novo grande desafio.
Marinho Peres preocupado
O antigo treinador de Sporting, Belenenses, V. Guimarães e Marítimo, Marinho Peres, foi um dos jogadores mais importantes da história da Lusa, entre 1967 e 1971. Hoje, o antigo central mostra-se preocupado. "É um clube forte, grande e que revelou muita gente, mas que está a atravessar um momento muito difícil. Estou triste e preocupado. Vamos ver se consegue evitar a descida. É muito difícil, mas temos es-perança", contou ao DN o antigo central, 70 anos. "A Portuguesa sempre foi, no futebol de São Paulo, um clube grande, mas vem baixando nos últimos 10/15 anos. É um clube muito querido e respeitado, que tem um estádio lindo", acrescentou a glória brasileira, que também representou clubes como Santos, Barcelona e Internacional.
Fundação alude a Aljubarrota
A Portuguesa foi fundada a 14 de agosto de 1920, a partir da fusão de cinco clubes portugueses de São Paulo: Lusíadas, Lusitano, 5 de Outubro, Marquês de Pombal e Portugal Marinhense. A data da fundação não foi escolhida por acaso. Foi precisamente no dia do 535.º aniversário da independência de Portugal, conquistada a Espanha após a batalha de Aljubarrota (1385).
Mas as referências ao nosso país não se ficam por aí. O símbolo do clube contempla uma cruz da Ordem de Avis, as cores são as da bandeira portuguesa e a primeira mascote era uma rapariga lusitana conhecida como A Severa, em alusão à fadista Maria Severa Onofriana. Até o Estádio do Canindé, quando tinha apenas uma bancada provisória de madeira, em 1956, era apelidado de Estádio Ilha da Madeira. E quando o recinto foi reinaugurado oficialmente após obras de remodelação, em janeiro de 1972, o Benfica de Toni, Nené e Simões foi o adversário convidado. Vítor Baptista foi o autor do primeiro golo após a reinauguração, num triunfo benfiquista (3-1) que estragou a festa. Nove anos mais tarde, o Sporting esteve no torneio comemorativo da inauguração dos holofotes.
Os portugueses Jacinto João (1975 e 1976) e Arouca (1977 a 1979) jogaram na Lusa. Severiano Correia (1975 e 1976) treinou lá.