Em julgamento
Os espanhóis dispersaram votos em dezembro forçando entendimentos entre partidos, mas estes responderam com o sinal dos tempos: primeiro nós, depois o país. Isto não significa que uma solução de governo devia ter sido encontrada a qualquer custo, dado que um governo nascido sob agendas incompatíveis (qualquer um com o Podemos) dificilmente teria vida longa. Além disso, um governo-só-porque-sim com políticos sem um pingo de respeito uns pelos outros não seria nunca fator de estabilidade, mas um problema acrescido ao delicado momento que Espanha atravessa (unidade do Estado, finanças, emprego, etc.). Mais: desgastaria ainda mais as principais lideranças (Rajoy e Sánchez) e a imagem dos seus partidos. Ir a votos é a melhor das escapatórias. No entanto, há lições a tirar destes quatro meses. A primeira é a confirmação de que Rajoy não tem só pouco talento negocial como lhe falta coragem política. De nada serviu ter ficado em primeiro em dezembro, dado que se escudou ao papel de líder nas negociações multipartidárias. A segunda é que, mesmo sob crítica interna, Sánchez teve o sentido de Estado que faltou a Rajoy e conseguiu uma plataforma com o Ciudadanos capaz até de perdurar após 26 de junho. Alberto Rivera foi, aliás, quem mais procurou uma solução moderada a três (mesmo detestando Rajoy), excluindo naturalmente o Podemos, que esteve sempre mais interessado em impor o seu programa e em lugares que projetassem o ego de Iglesias. Por fim, o rei, que ao prolongar a agonia das negociações improváveis desgastou ainda mais os interlocutores e, hoje visto, a si mesmo, incapaz de formatar uma solução. É provável que nada de substancial mude a 26 de junho, tendo em conta as sondagens. Mas há dois pontos novos: os eleitores também julgarão estes quatro meses e nenhum dos líderes tem margem para falhar. É que se assim for, o melhor é darem lugar a outros.