Em Guimarães não era opção mas o Inter acredita em mim

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Entrevista com Pelé, futebolista português do Inter de Milão

Joga na posição de médio-defensivo. Porque é que tem a alcunha de Pelé?

Porque em pequeno era muito baixinho e muito rápido. Jogava na posição de avançado e marcava muitos golos, daí chamarem-me Pelé. O nome manteve-se mesmo quando, mais tarde, comecei a jogar mais atrás. Mas é só o nome profissional, porque a minha família trata--me pelo nome de baptismo.

Qual foi a primeira impressão do Inter de Milão?

A primeira imagem é a de que chegámos a um grande clube, campeão de Itália. O Vitória de Guimarães também é um grande clube mas, quer queiramos quer não, há diferenças.

Qual foi o primeiro conselho de Figo?

Figo recebeu-me muito bem, apresentou-me ao grupo, está a ajudar na minha integração e disse-me que se estou no Inter é porque tenho valor.

Ele já o convidou para ir jantar a casa dele?

Já, já fui jantar a casa dele. Espero que o Figo não se importe que eu revele isto. No último jogo do Inter no campeonato italiano, ele não gostou de ser substituído.

Figo anda é Figo?

Claro que é. Ainda temos Figo para muito tempo. Está em grande forma e faz treinos fantásticos.

Como é que foi recebido pelos colegas?

Muito bem. É claro que sendo o mais novo do plantel fazem uma ou outra brincadeira que um dia eu farei a outros mais novos.

Por exemplo...

Sou sempre o escolhido para ir ao meiinho ( exercício em que o jogador tenta interceptar a bola que os colegas, colocados em círculo trocam entre si).

O treinador Mancini já lhe disse se conta consigo já esta época?

Não me disse se ia pôr-me a jogar ou não, ou seja, não me deu certezas mas já conversou comigo e gostei muito da conversa. Disse-me para estar tranquilo e treinar bem porque acredita em mim. Assim como o presidente. Também me disse que gostou muito da minha contratação e que eu sou muito bom jogador. Tenho a certeza de que vou ter um bom futuro no Inter e espero começar a jogar em breve. Quero fazer aqui uma grande carreira.

Fala com o treinador em que língua?

Num misto de italiano e espanhol. mas começarei brevemente a ter aulas de italiano.

No Guimarães, Manuel Cajuda não apostava em si. O que é que o Inter viu em si que escapou ao treinador do Guimarães?

É uma pergunta que também pode ser feita ao treinador do Guimarães. Penso que entre ele e Mancini há poucos pontos em comum. São treinadores com estatuto diferente e Mancini treina um dos melhores clubes do Mundo. Para mim é muito bom ser reconhecido por um treinador com o estatuto do técnico do Inter de Milão. No Guimarães não era opção mas Mancini acredita em mim.

O que é que já aprendeu com Mancini?

O sentido táctico. Estou a aprender a saber estar sempre em campo. Aqui trabalha-se a parte táctica de maneira completamente diferente do que acontece em Portugal. Em todos os momentos de jogo é fundamental saber o que fazer dentro de campo.

Ainda mais um médio-defensivo...

Claro. A grande virtude de um médio-defensivo é um forte sentido posicional. Sem isso não há bons médios defensivos.

Foi apanhado de surpresa pelo convite do Inter de Milão?

Completamente. Quando o meu empresário [Jorge Mendes] me telefonou a perguntou se eu não me 'importava' de jogar no Inter de Milão nem queria acreditar.

Mas sentiu que estava a ser vigiado pelo Inter...

Senti isso apenas no Torneio de Toulon e no Mundial do Canadá. Mas daí até ser contactado vai um passo muito grande.

Quem serve para o Inter não serviria para o Benfica, para o FC Porto ou para o Sporting?

Talvez. Acho que sim.

Teve convites dos três grandes portugueses?

Não vou comentar isso.

Se não fosse pelo dinheiro preferia ter ficado em Portugal?

Claro que seria bom para qualquer jogador alinhar num dos três grandes portugueses. O próprio Guimarães é um bom clube mas saí para uma realidade completamente diferente. Se não fiquei em Portugal foi porque quis sair.

Atendendo à relação com o treinador era impossível continuar no Vitória?

Muito dificilmente, mas se tivesse que renovar, renovaria. No entanto, um convite do Inter é irrecusável e foi com certeza o melhor neste momento para a minha carreira.

Jurou a si mesmo que vai atingir determinadas metas no Inter?

Jurei a mim mesmo que vou fazer uma grande carreira no Inter de Milão, que, com esta camisola, vou ganhar todos os títulos importantes no futebol Mundial. São estes os meus objectivos.

Quando isso acontecer, vai agradecer a quem?

À minha família e aos treinadores que começaram a apostar em mim. Vítor Pontes, Norton de Matos e José Couceiro deram-me muita confiança porque o outro [Cajuda] não me ajudou em nada.

O Mundial do Canadá revelou alguns jogadores. O Inter foi lá observá-lo, o Benfica contratou Di María e Freddy Adu e o português Fábio Coentrão e o FC Porto escolheu Leandro Lima. Que pensa destes atletas?

O Di María é um jogador muito bom, tem muita agilidade e é muito rápido. Mas o Fábio Coentrão não lhe fica atrás. É tão bom como o Di María. De todos os os estrangeiros de que falou o Di María é o mais criativo. Os outros, não os conheço muito bem.

A selecção de sub-20 falhou completamente no Mundial...

Falhou, porque em termos de talento podíamos ter ficado entre os três primeiros lugares. Essa era a nossa obrigação mas cometeram-se vários erros.

Que erros?

Devíamos ter encarado o jogo com o Gana de outra maneira. E também o desafio com o Chile. Não estou a criticar ninguém em particular, estou a falar de todo o grupo no qual me incluo.

Couceiro merecia ser despedido?

No futebol a regra é simples: sem resultados...

Couceiro tinha mão na equipa?

Tinha. E sempre o respeitámos muito. Aconteceu aquele incidente com o Zequinha, um incidente que pode acontecer a qualquer um num momento menos bom.

Zequinha foi castigado pela Federação Portuguesa de Futebol por ter tirado um cartão vermelho da mão de um árbitro. Scolari também merece castigo?

A verdade é que todos temos noites más. O Zequinha está consciente do que fez, sabe que errou e está arrependido. Sou amigo dele e sei que esta é a verdade. Por isso, deve merece que lhe seja dada uma segunda oportunidade.

E Scolari?

Não acompanhei o jogo de Portugal com a Sérvia porque estava em Itália. Li apenas nos jornais. Tal como disse todos temos noites más. O importante é reflectir nos erros que cometemos.

No Inter a selecção nacional A fica mais perto?

Neste momento estou nos sub-21 e se me correrem as coisas bem penso que terei uma oportunidade na selecção principal.

Que lhe disse Rui Caçador, treinador dos sub-21, quando foi anunciada a sua transferência para Itália?

Deu-me os parabéns, disse que estava muito contente por mim e pediu-me para continuar a trabalhar como até aqui.

De Guimarães para Milão. Gosta de moda?

Gosto muito Não sou vaidoso mas gosto de me saber vestir. Gosto de Dolce&Gabanna e de Gucci.

Já tem muitos adeptos do Inter a pedir-lhe autógrafos?

Sim. E todos me dizem que vou ser o futuro médio centro do Inter.

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