Em Defesa de Ronaldo
Nas últimas semanas um coro de vozes hipócritas tem-se levantado, por tudo e por nada, contra Cristiano Ronaldo, o atleta e maior jogador de futebol português de sempre. Esperam que a seleção seja eliminada para cruxificar Cristiano Ronaldo como se não existissem mais jogadores nem treinador na equipa. É injusto, é imoral, é iniquo.
Portugal não tem relevância na cultura mundial. Não tem um Picasso (espanhol), um Rembrandt (holandês), ou um Basquiat (americano). Não tem um Kafka (checo), um Dostoievski (russo) ou uma Chimamanda Adichie (nigeriana). Nem tão pouco músicos clássicos como Mozart (austríaco) ou Beethoven (alemão) nem mesmo um Verdi (italiano) ou um Wagner (alemão). Não temos estrelas do rock como os Beatles ou os Rolling Stones (Reino Unido) ou génios do jazz como Thelonious Monk ou Miles Davies (americanos) nem estrelas cinematográficas como Marilyn Monroe (americana) ou Brigitte Bardot (francesa). Não temos cineastas como Akira Kurosawa (japonês), nem Pedro Almodover (espanhol). Não temos escultores como Rodin (França), nem cientistas como Einstein (alemão), Newton (inglês), Maria Curie (polaca), Katherine Johnson (americana) ou Niels Bohr (dinamarquês). Não temos militares como Napoleão (francês) ou Gengis Khan (mongol). Não nasceram entre nós políticos ou estadistas com o impacto internacional de Mao Tse-tung (chinês), de George Washington (norte-americano) ou Nelson Mandela (sul-africano), nem heróis populares como Che Guevara (argentino), Amílcar Cabral (Guiné-Cabo Verde), Zumbi dos Palmares (brasileiro) ou Rosa Parks (americana). Não temos autores de banda-desenhada como Hergé (belga) ou Hideaki Sorachi (japonês). Não temos pensadores como Confúcio (chinês), Karl Marx (alemão) ou WEB du Bois (americano). Não temos astronautas como Iuri Gagarin (russo), Dumitru Prunariu
(romeno), Bertalan Farkas (húngaro) ou Mae Jamison (americana). Não temos visionários religiosos como Jesus, Maomé ou Buda, não temos pacifistas como Gandhi (indiano) ou Martin Luther King (americano).
Não construímos monumentos grandiosos e antigos como o Coliseu de Roma, a Grande Muralha, as pirâmides do Egito, o Machu Picchu, ou o Angkor Wat, nem joias da arquitetura como a Torre Eiffel ou a Torre de Pisa. Não temos nenhum motivo de saliência ou de génio que nos torne conhecidos. Pelo contrário temos fama de pouco desenvolvidos, pobres e brutos. Alguns reclamam os descobrimentos, o colonialismo, a Inquisição e a ditadura que são vistos como crimes e condenados universalmente.
O nosso país não é conhecido nem reconhecido pelo seu contributo, que aliás é muito pequeno, para a cultura mundial. Ninguém afirma: "Ah, Portugal conheço, é o país de Eça Queiroz". Ninguém exclama "Ah a bela pátria do Duque de Bragança". Pelo contrário dizem "Onde fica?" e perguntam "É uma região de Espanha?". Quem nunca viajou e foi confundido com turcos, marroquinos, italianos mas raramente reconhecido como português (exceto em Badajoz quando íamos comprar caramelos).
Ronaldo ajudou Portugal a superar essa insignificância do nosso coletivo. O que várias gerações não conseguiram ele fê-lo. Colocou Portugal no mapa, não como país subdesenvolvido, pobre, bruto, inculto e insignificante, mas como campeão, como a nação do melhor jogador do mundo. É algo que todos lhe devemos. Que o país e cada um de nós lhe deve. Não o podemos, não o devemos, esquecer.
Sentindo-se encurralado, preso num clube sem chama que o não apreciava, Ronaldo com a candura dos inteligentes, com a honestidade
dos frontais libertou-se dessas amarras jurídicas. Pois, foi duramente criticado por aqueles que da vida só conhecem a subserviência e a diligente obediência aos poderes que existem. Que figura ridícula e pequena fazem. Não é com esses que se faz a grandeza de um país.
Ronaldo persegue os seus sonhos, os seus recordes, elava a fasquia mas com a prudente sabedoria da noção da idade que tem e do ponto em que está da sua longa e brilhante carreira num mundo tão competitivo como é o do futebol profissional internacional.
Quando chegou ao mundial queria ser o primeiro jogador de sempre a marcar em cinco mundiais. Conseguiu. Muitos parabéns. Com isso ajudou a equipa a superar a fase de grupos. Pretende, agora, chegar aos nove golos em mundiais, um recorde que ainda não bateu. É importante que o faça e que a equipa o ajude nesse projeto. Eis como se estabelecem objetivos sensatos, alavancando o alcançado e querendo sempre mais. Um extraordinário exemplo para todos nós.
Ser competitivo não é pecado antes qualidade, ser amorfo, apático e acomodado, isso sim, são graves defeitos que têm levado o nosso país para o fundo.
Por mim só consigo dizer: Obrigado Ronaldo. Bem hajas.