Em 2022, havia em Portugal 1,3 milhões de crianças e jovens até aos 15 anos. A maior parte (51%) eram rapazes, 49% raparigas. Em cinco décadas, é uma redução de 46% - quase metade. O maior decréscimo registou-se na faixa etária dos cinco aos nove anos (-50%). Até ao início da década de 1980, as crianças representavam pelo menos um quarto da população nacional. Em 2022, essa percentagem era de 12,8%. Aliás, nos 27 Estados-membros da União Europeia (UE) só a Itália ultrapassa Portugal. Em contrapartida, a Irlanda é o país mais jovem..Os dados são do mais recente estudo do portal Pordata, que, por ocasião do Dia Universal dos Direitos da Criança (que se assinala esta segunda-feira), divulga um estudo sobre os jovens e a população portuguesa, retratando-a em fatores como a nacionalidade, a escolaridade ou as condições socioeconómicas. Afinal, "é possível compreender também a evolução da própria sociedade portuguesa", justifica a Pordata..Segundo projeções do Instituto Nacional de Estatística (INE), Portugal continuará a perder crianças e jovens nos próximos anos: em 2050, serão 1,1 milhões. Em 2080, o número será de apenas um milhão..De acordo com o retrato agora feito pelo portal - e com base nos censos de 2021 -, mais de 65 mil crianças e jovens em Portugal têm nacionalidade estrangeira. Isto representa quase 5% (4,9%) da população até 15 anos..Nestas faixas etárias, a esmagadora maioria das crianças são de nacionalidade brasileira (48%). Seguem-se as angolanas (8%) e, depois, as chinesas (4%)..Ainda assim, quase 12 mil nasceram em Portugal, com as crianças brasileiras a estarem presentes em maior número (29%), seguindo-se as chinesas (15%). O pódio é fechado pelas crianças de nacionalidade angolana (9%). Há ainda 6% de jovens crianças cabo-verdianas a nascer em Portugal e 5% de ucranianas..O retrato divulgado esta segunda-feira pela Pordata analisa, também, os contextos familiares das crianças. E conclui: 254 mil vivem numa família monoparental (só com o pai ou só com a mãe). Ainda assim, a esmagadora maioria (81%) vivem em núcleos familiares compostos por um casal (seja em união de direito ou de facto). Das crianças em situação monoparental, 89% fazem-no com a mãe..No caso de pais divorciados, diz a Pordata, "a guarda das crianças estava atribuída sobretudo ao progenitor com quem as crianças viviam (74%), e em 19% a guarda era partilhada". Os restantes 7% "referem-se a situações como a guarda atribuída ao progenitor com quem a criança não vive e em outras situações como, por exemplo, avós, outros familiares, ou serviço de assistência social.".É também analisado o contexto escolar das crianças. Sendo, até, um dos fatores positivos em relação a outros Estados-membros.."Em Portugal, menos de metade das crianças até aos três anos (48%) estão enquadradas em serviços de educação na primeira infância [educação pré-escolar, ensino obrigatório, centros de estudo ou de acolhimento]". Este valor é superior à média da UE (36%)..E o estudo aponta outro fator: "As creches tinham, em 2021, capacidade para 118.260 crianças, o que, atendendo ao número de crianças com menos de três anos de idade (cerca de 240 mil)", o que permite concluir que "a taxa de cobertura das respostas sociais", em relação à população-alvo, "não chega a metade das crianças". .Por fim, um retrato sobre as condições de vida. Em 2021, 266 mil crianças e jovens (76 mil os quais com menos de seis anos) eram pobres..Comparando com a média europeia, Portugal era o 11.º país com maior taxa de pobreza entre as crianças e jovens e o 12.º com maior taxa de pobreza nas crianças com menos de seis anos..Segundo o retrato feito, quanto mais velhas são as crianças e jovens, maior é a taxa de pobreza ou exclusão social (17,6% nos menores de 6 anos, 23,4% entre os 11 e os 15)..Por consequência, este fator tem impacto na saúde das crianças. E, de acordo com o estudo, 6,4% das famílias dizem não ter acesso a cuidados de medicina dentária. Mas, se olharmos apenas para as crianças no limiar de pobreza, o número sobe para 17,7% - quase o dobro da média europeia (9%). Portugal é, então, o quinto país da UE onde há mais crianças sem acesso a um dentista. Quando em situação de pobreza, é mesmo o país com maior número de crianças sem acesso..rui.godinho@dn.pt