Em Berlim tudo à espera dos trainspotters de Danny Boyle

"T2" não quer dizer "Terminator", quer dizer "Trainspotting". A sequela mais esperada desta temporada tem estreia fora de competição
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Um festival que costuma provocar pouco com um provocador a presidir ao júri. A 67ª edição da Berlinale arranca quinta-feira com Paul Verhoeven a prometer um palmarés com sal e pimenta. Ele e um grupo eclético de outros cineastas e atores cuja lista de nomes finais só ficou fechada na semana passada. Diego Luna, o ator mexicano que entrou para a família de A Guerra das Estrelas com o recente Rogue One - Uma História Star Wars, a maravilhosa atriz alemã Julia Dentch e a norte-americana Maggie Gyllenhaal revelada em Donnie Darko, em 2001 são os nomes mais sonantes. Nomes que podem dar um palmarés politicamente incorreto.

O festival do urso este ano terá um encontro forte com o revivalismo. É em Berlim que chega a estreia internacional de T2- Trainspotting, de Danny Boyle, a sequela do famoso clássico que há 20 anos fez-nos acreditar de novo numa possibilidade de renovação do cinema britânico. Só que 20 anos depois a continuação da história dos amigos marginais de Edimburgo vem com o selo de uma "major" - é a Sony quem distribui o filme e Ewan McGregor, o protagonista, é hoje uma das estrelas do cinema mundial com rosto mais visível. T2 é quase um blockbuster, um blockbuster para uma geração que cresceu com a britpop e que não estava ainda contaminada pela "britania" Harry Potter e o digital.

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Há uma responsabilidade enorme nesta empreitada. É o próprio Danny Boyle quem admite, ele que foi muito pressionado por Hollywood para filmar esta continuação há uma década - quis esperar mais dez anos, quanto mais não seja porque esteve sem falar com Ewan McGregor alguns anos após zanga do ator por não ser o escolhido para A Praia. Resta saber se esta reunião de quarentões escoceses é para dizer algo aos fãs do primeiro filme ou a um novo público mais juvenil. A pressão é muita e as reações em Berlim podem ajudar ou prejudicar a carreira do filme em vários mercados europeus (a seleção fora de competição no festival obrigou inclusive a um pequeno adiamento na data de estreia).

Outra sequela que marcará o final da Berlinale é o novo Wolverine, chama-se Logan - The Wolverine (fora de competição), de James Mangold e serve para baralhar ainda mais o universo temporal das sagas dos X-Men, desta vez situada num futuro próximo e com a personagem de Hugh Jackman a tentar uma reclusão. Precisará Berlim de uma grande produção de super-heróis com a máquina de Hollywood para dar gás ao último fim-de-semana? É o que se arranja, deduzimos...Mas Jackman e Sir Patrick Stewart são sempre perfeitos para potencializar flashes na passadeira vermelha. Também em regime fora de competição e com origem americana destaca-se The Lost City of Z, de James Gray, um dos maiores cineastas americanos da nova geração. Baseado no viciante romance de David Grann, o filme conta-nos a odisseia de um explorador inglês que se aventura pela selva amazónica em busca de uma cidade perdida. Gray a experimentar o épico mesmo com um orçamento baixo. Veio do Festival de Nova Iorque com fama de filme "maldito" mas num festival europeu pode ganhar uma nova vida. É um dos títulos mais esperados em Berlim.

Os filmes que nos deixam com mais água na boca vêm de proveniências diversas. O novo Aki Kaurismaki promete mundos e fundos. The Other Side of Hope é o sucessor de Le Havre e já tem distribuição garantida em Portugal. Do Brasil o regresso de Marcelo Gomes, com Joaquim, co-produção com Pandora da Cunha Telles. Oportunidade para matarmos saudades do cinema do realizador de Cinema, Aspirinas e Urubus. Impossível também não ansiar por The Dinner, de Oren Moverman, que o ano passado ofereceu-nos o inesquecível Viver à Margem. O ator é o mesmo: Richard Gere. A corrida ao Urso de Ouro tem ainda nomes como o coreano Hong Sangsoo; a britânica Sally Potter; o americano Stanley Tucci; o francês Martin Provost; o chileno Sebastián Lelio; ou o alemão Thomas Arslan.

Fora da competição, curiosidade para ver o que faz Cate Shortland com Teresa Palmer em Berlin Syndrome e o brasileiro Vazante, de Daniela Thomas, com o português Adriano Carvalho, ambos na secção Panorama. No Forum, todos os olhares vão dar a Menashe, de Joshua Z. Weinstein, sucesso de estima em Sundance e que vai tornar famoso o ator Menashe Lustig. A história de um judeu ultra-ortodoxo de Brooklyn às voltas com a custódia do seu filho. Há quem diga nos EUA que poderá estar aqui o primeiro grande candidato aos Óscares de 2018. É também no Forum que um dos cineastas americanos do momento vai brilhar: Alex Ross Perry, que chega com Golden Exits.

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