Elisa Ferreira promete empenho contra as "tendências desagregadoras" que "ameaçam" a União Europeia. 

O executivo comunitário de Ursula von der Leyen tem um número recorde de 13 mulheres (incluindo a própria) e 14 homens. Há oito vice-presidentes.
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A antiga ministra socialista e ex-vice-governadora do Banco de Portugal, Elisa Ferreira, foi nomeada para comissária europeia para a Coesão e Reformas. O anúncio foi feito pela presidente eleita da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, numa conferência de imprensa em Bruxelas.

A comissária europeia portuguesa indigitada Elisa Ferreira congratulou-se com o pelouro que lhe foi atribuído, a pasta da Coesão e Reformas, e defendeu o empenho de todos contra as "tendências desagregadoras" que "ameaçam" a União Europeia. Afirmou ainda que foi com "a maior honra" que aceitou "o convite do primeiro-ministro" para assumir o cargo.

"É igualmente com muita satisfação, e consciente da elevada responsabilidade que me é confiada, que exercerei o pelouro que me foi atribuído para os próximos cinco anos, caso venha, como espero, a ser confirmada no cargo para que fui indigitada", lê-se numa nota enviada à agência Lusa.

Para Elisa Ferreira, "investimento, desenvolvimento económico, coesão territorial, convergência económica e social no quadro da União Económica e Monetária e transição energética são áreas prioritárias da Comissão Europeia", nas quais disse ir colocar toda a "determinação, energia e experiência" adquirida ao longo da sua carreira profissional.

"Nunca, como hoje, a União Europeia precisou tanto do empenhamento de todos contra as tendências desagregadoras que a ameaçam", afirmou.

À presidente da Comissão, Elisa Ferreira manifestou toda a "lealdade" para "defender a UE e torná-la tangível no dia-a-dia dos seus mais de 500 milhões de cidadãos".

A carta de missão de Ursula von der Leyen

Elisa Ferreira, de 63 anos, foi ministra dos governos chefiados por António Guterres, primeiro do Ambiente, entre 1995 e 1999, e depois do Planeamento, entre 1999 e 2002. Entre 2004 e 2016 foi eurodeputada e é ex-vice-governadora do Banco de Portugal.

Na carta de missão que enviou à futura comissária, publicada no site da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen explica que "a política de coesão da Europa tem um impacto tangível na vida de milhões de europeus. O investimento em comunidades e infraestruturas locais ajuda as regiões a recuperar o atraso e reduz as disparidades geográficas. Também ajuda a abordar as realidades diárias, como uma crescente divisão rural ou o envelhecimento e o declínio da população em diferentes partes da Europa", escreveu.

Sobre o que espera da comissária, a presidente eleita do executivo comunitário explica que o objetivo é "garantir que a Europa investe e apoia as regiões e as pessoas mais afetadas pelas transições digital e climática, não deixando ninguém para trás".

Von der Leyen defende uma política moderna, simples de usar e que leve a um investimento de maior qualidade, pedindo a Elisa Ferreira que trabalhe com os Estados membros para garantir o uso efetivo e total dos fundos e assegurar que existe controlo apropriado dos gastos. A presidente eleita pede ainda à futura comissária que desenhe um Fundo de Transição Justo, que possa ser usado para ajudar as regiões mais afetadas pelas transições digital e climática.

Elisa Ferreira será ainda responsável por coordenar o apoio técnico aos Estados-membros que estão a preparar-se para aderir ao euro. Ursula von der Leyen pede-lhe ainda que tenha atenção ao desenvolvimento sustentável das cidades e áreas urbanas europeias, lembrando que está para breve a revisão da agenda urbana.

A futura comissária, a primeira mulher portuguesa a integrar o executivo comunitário desde a adesão de Portugal à comunidade europeia (1986), sucederá a Carlos Moedas, que foi comissário indicado pelo anterior governo PSD/CDS-PP, e que teve a seu cargo a pasta da Investigação, Ciência e Inovação e foi nomeado em novembro de 2014.

Comissão Von der Leyen

"Esta equipa vai moldar o caminho europeu: vamos tomar ações ousadas contra as alterações climáticas, construir a nossa parceria com os EUA, definir as nossas relações com uma China mais assertiva e ser um vizinho confiável, por exemplo, para África", disse Von der Leyen, antes do anúncio dos nomes.

"Esta equipa vai defender os nossos valores e padrões. Quero uma comissão que é liderada com determinação, que está claramente focada nos temas atuais e que garante respostas. Quero que seja uma comissão bem equilibrada, ágil e moderna", acrescentou. "A minha comissão vai ser uma comissão geopolítica comprometida nas políticas sustentáveis. Quero que a União Europeia seja a guardiã do multilateralismo. Porque sabemos que somos mais fortes se fizermos juntos o que não podemos fazer sozinhos", indicou.

Na lista com os nomes dos 26 comissários propostos pelos Estados-membros e que receberam o aval da presidente eleita da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, destaca-se o facto de o futuro colégio, que ainda terá de receber o aval do Parlamento Europeu, contar com uma paridade de género inédita: serão 14 homens e 13 mulheres (incluindo a própria Von der Leyen).

Há oito vice-presidentes na Comissão de Von der Leyen, incluindo três vice-presidentes executivos que têm a dupla função de serem comissários e responsável por um dos três temas centrais na agenda da comissão. Assim, Frans Timmermans (Holanda) será responsável pelo Green Deal, pela ação política de resposta às alterações climáticas, enquanto Margrethe Vestager (Dinamarca) vai coordenar a Agenda Digital, além de ser comissária para a Concorrência. E Valdis Dombrovskis (Letónia) vai trabalhar numa Economia que Trabalha para as Pessoas e ser comissário dos Serviços Financeiros.

As outras vice-presidências cabem à Espanha, República Checa, Grécia, Eslováquia e Croácia.

O Reino Unido não designou nenhum comissário, dado ter prevista a sua saída do bloco europeu em 31 de outubro, na véspera da entrada em funções da nova Comissão Europeia.

No final do mês de setembro, início de outubro, deverão ter início as audições dos comissários designados perante as respetivas comissões do Parlamento Europeu, que se pronunciará sobre o colégio como um todo em 22 de outubro.

Lista dos comissários

Esta é a lista dos comissários designados para o executivo comunitário liderado pela antiga ministra da Defesa alemã, que pertence ao grupo do Partido Popular Europeu (PPE):

Áustria: Johannes Hahn (PPE) -- Atual comissário responsável pelo Alargamento, foi também já comissário de Durão Barroso, com a pasta da Política Regional. Será responsável pelo Orçamento e Administração, respondendo diretamente a Ursula von der Leyen.

Bélgica: Didier Reynders (Renovar) -- Ministro dos Negócios Estrangeiros belga. Será comissário da Justiça.

Bulgária: Mariya Gabriel (PPE) -- Atual comissária da Economia e Sociedade Digitais passa agora para a Inovação e Juventude.

Chipre: Stella Kyriakides (PPE) -- Deputada, antiga presidente da assembleia parlamentar do Conselho da Europa. Vai ser responsável pela pasta da Saúde.

Croácia: Dubravka Suica (PPE) -- Eurodeputada e antiga autarca de Dubrovnik. Vice-presidente para Democracia e Demografia.

Dinamarca: Margrethe Vestager (Renovar) -- Atual comissária da Concorrência, foi a candidata dos Liberais ao cargo de presidente da Comissão Europeia e vai ser uma das vice-presidentes de Von der Leyen. Será comissária para a Concorrência, sendo também responsável pela Europa para a Idade Digital, responsável pela digitalização.

Eslováquia: Maros Sefcovic (S&D) -- Vice-presidente na Comissão de Jean-Claude Juncker com a pasta da União da Energia, continua a ser vice-presidente, mas das Relações Interinstitucionais.

Eslovénia: Janez Lenarcic (Renovar) -- Diplomata, embaixador da Eslovénia junto da UE. Fica responsável pela pasta da Gestão de Crise.

Espanha: Josep Borrell (S&D) -- Presidente do Parlamento Europeu entre 2004 e 2006, será o Alto Representante da UE para a Política Externa. É outro dos vice-presidentes.

Estónia: Kadri Simson (Renovar) -- Antiga ministra da Economia, já se encontra no atual colégio da Comissão Europeia, ao ter sido a eleita para suceder ao comissário Andrus Ansip, que depois das eleições europeias decidiu cumprir o mandato de eurodeputado. Fica com a pasta da Energia.

Finlândia: Jutta Urpilainen (S&D) -- Antiga ministra das Finanças finlandesa. Comissária para as Parcerias Internacionais.

França: Sylvie Goulard (Renovar) -- Antiga eurodeputada e ministra da Defesa. Comissária para o Mercado Interno, ficando também com responsabilidades na nova diretoria da Indústria da Defesa e Espaço.

Grécia: Margaritis Schinas (PPE) -- Antigo eurodeputado, foi o principal porta-voz da Comissão liderada por Jean-Claude Juncker desde 2014. Será responsável pela Proteção do Nosso Modo de Vida Europeu, sendo também vice-presidente.

Holanda: Frans Timmermans (S&D) -- Atual primeiro-vice-presidente da Comissão Juncker, com a pasta do Estado de Direito, foi o candidato dos Socialistas europeus à presidência da Comissão Europeia, e voltará a assumir uma vice-presidência. É o vice-presidente para o Green Deal, o acordo europeu para a transição económica e para as mudanças climáticas.

Hungria: László Trócsányi (PPE) -- Antigo ministro da Justiça, atualmente eurodeputado. É o responsável pela pasta da Vizinhança e Alargamento.

Irlanda: Phil Hogan (PPE) -- Atual comissário europeu da Agricultura torna-se agora comissário do Comércio.

Itália: Paolo Gentiloni (S&D) -- Antigo primeiro-ministro, foi o último nome a ser apresentado a Von der Leyen, pela nova coligação no poder em Itália. Será o comissário dos Assuntos Económicos.

Letónia: Valdis Dombrovskis (PPE) -- Atual vice-presidente da Comissão Juncker com a pasta do Euro. É o Comissário para os Serviços Financeiros.

Lituânia: Virginijus Sinkevicius (Verdes) -- Ministro da Economia lituano, pode tornar-se dos mais jovens comissários europeus de sempre (tem 28 anos). É o comissário para o Ambiente e os Oceanos.

Luxemburgo: Nicolas Schmit (S&D) -- Antigo ministro do Trabalho, é atualmente eurodeputado. Fica com a pasta do Trabalho.

Malta: Helena Dalli (S&D) -- Antiga ministra da Igualdade, será comissária dessa mesma pasta.

Polónia: Janusz Wojciechowski (ECR) -- Antigo eurodeputado, é designado pelo único partido eurocético representado na Comissão (Lei e Justiça). Será comissário da Agricultura.

República Checa: Vera Jourova (Renovar) -- Atual comissária responsável pela pasta da Justiça. Vice-presidente e comissária para os Valores e Transparência.

Roménia: Rovana Plumb (S&D) -- Atual ministra do Ambiente vai ser comissária para o Transporte.

Suécia: Ylva Johansson (S&D) -- Atual ministra do Emprego, vai ficar com a pasta do Interior.

A nova Comissão Europeia deverá entrar em funções a 1 de novembro próximo, depois do necessário aval da assembleia europeia.

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