Eleitorado PSD dividido entre ex-líder e o seu atual candidato

Bastião social-democrata desde 1989, após década e meia de domínio do CDS, os munícipes de Esposende estão confrontados com novidades na escolha do novo executivo camarário: dois candidatos que já presidiram à autarquia, ambos pelo PSD, e um que agora faz campanha como independente
Publicado a
Atualizado a

João Cepa liderou a câmara social-democrata de Esposende durante década e meia. Em 2013 deixou o cargo "com a intenção de não voltar à atividade política". Mas quatro anos volvidos, sendo o concelho dirigido pelo seu antigo vice--presidente Benjamim Pereira, coloca aos munícipes um desafio que nunca tiveram: optarem entre o que garante serem modelos distintos de "gestão e liderança" corporizados pelo candidato do PSD e por si, agora como independente.

A prevista divisão do eleitorado do PSD - que desde 1989 governa Esposende com maioria absoluta - por dois nomes que já representaram o partido deixa PS e CDS com expectativas de eleger pelo menos um segundo vereador. Mesmo a CDU, que nunca atingiu esse objetivo, mostra-se agora confiante em beneficiar daquela disputa entre quem não tem "divergências de fundo", mas se move por "questiúnculas pessoais e lutas de poder", para ter o seu primeiro vereador.

"O povo não pode deixar-se levar por uma bipolarização entre aquelas duas figuras", alerta o comunista Manuel Carvoeiro, sustentando mesmo que, "sem querer ofender ninguém, João Cepa e Benjamim Pereira são farinha do mesmo saco". É que o agora presidente da autarquia, prossegue o deputado municipal, "continuou num estilo diferente as políticas" desenvolvidas pelo antecessor "durante cerca de 15 anos".

De resto, acrescenta Manuel Carvoeiro, "o PSD está à frente do concelho há 28 anos", período suficientemente longo para criar "clientelas políticas e caciquismos" que agora leva "as gentes de Esposende a terem vontade de estabelecer uma rutura" - que "passa pela eleição de um vereador da CDU".

O PS, que há quatro anos ficou a pouco mais de uma centena de votos de eleger um segundo vereador (à custa do CDS), avança com um Enes Abreu convicto de que "o eleitorado tradicional do PSD pode ter uma reação pedagógica" e castigar a disputa entre João Cepa e Benjamim Pereira - que o DN não conseguiu contactar. "Não se pode brincar com a seriedade das pessoas" cujo maior grau de "educação e informação" lhes dá condições de "contrariar este tipo de processos", observa o bancário socialista.

Artur Viana, a concorrer por um CDS que inicialmente apoiou a candidatura independente de João Cepa e depois desistiu, reconhece as dificuldades da disputa eleitoral para um partido que governou Esposende entre 1976 e 1989. "Temos feito um trabalho muito pobre em termos de cativação do eleitorado", assume ao DN o atual líder da bancada municipal centrista que se apresenta como o oposto daqueles dois "políticos de carreira" da área social-democrata.

João Cepa, contudo, considera estar em grande desvantagem face ao presidente do município. Apesar de ter o apoio de figuras de praticamente todo o leque partidário, "não vale a pena ter ilusões, porque o PSD tem uma implantação grande, um eleitorado fixo ainda considerável", confessa o candidato, apesar da nota otimista que decorre de haver "exemplos pelo país fora onde os candidatos autárquicos dos partidos têm cada vez menos peso" porque se "vota nas pessoas e nos projetos".

Manuel Carvoeiro, porém, enfatiza que o candidato independente "vem agora defender ou propor aquilo que rejeitou, que criticou quando a CDU apresentou" há anos. Exemplos? A crítica aos parques industriais do concelho, "que eram da idade da pedra", ou a sugestão de criar um conservatório de artes e música tendo similar ao existente em Famalicão.

Seja como for, João Cepa tem num dos pratos da sua balança a "expetativa de que [os eleitores] votem menos no símbolo partidário e mais no projeto e em quem o corporiza" - mas no outro está "o poder" e quem o exerce, afirma o antigo autarca, porque "tem sempre formas ou ferramentas para conquistar eleitorado. Eu não tenho subsídios, não posso prometer empregos ou fazer obras de última hora" "Não quer dizer que [Benjamim Pereira] o faça mas.... é sempre uma luta desigual. Talvez o eleitorado, na solidez da cabine de voto, seja capaz de escolher a solução alternativa", refere ainda o antigo presidente da câmara de Esposende, observando ainda que a sua candidatura "parte do zero, ao contrário dos outros que partem do universo partidário".

Artur Viana não partilhará dessa leitura, quando diz que o CDS-PP, "se quiser ter peso", tem de começar a "cativar os eleitores mais novos sem esquecer os mais velhos" a quem deixou de se dar atenção. Para isso tem um "projeto que vale mais" do que o partido e este, explica, "é mais um meio para que o projeto de possa implantar no concelho".

O socialista Enes Abreu, observando que "as eleições são para ganhar" mesmo que tal nunca tenha sucedido nas anteriores 11 eleições locais, insiste que agora há "uma conjuntura totalmente diferente, existem condições atípicas" que podem "permitir ao PS ter um resultado inesperado".

Num ponto estão de acordo todos os adversários de Benjamim Pereira: foram quatro anos a promover o concelho como destino de férias no verão (quando a população mais que duplica), em vez de investir na atração de empresas para criar empregos e em fixar pessoas durante todo o ano.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt