Eleições no Paquistão: a estrela do críquete, o primeiro-ministro preso e o filho da líder assassinada
Com um segundo resgate do FMI no horizonte, depois de, em 2013, ter recebido 5,3 mil milhões de dólares, o Paquistão vota esta quarta-feira em eleições legislativas. A juntar a isto, a ameaça terrorista, que desde sempre paira no ar. E o boicote de alguns representantes das minorias religiosas e as acusações cruzadas entre os principais partidos.
Essencialmente, o escrutínio joga-se entre o Movimento para a Justiça do Paquistão de Imran Khan, a Liga Muçulmana do Paquistão-Nawaz de Nawaz e Shahbaz Sharif e o Partido Popular do Paquistão de Bilawal Bhutto.
Khan, de 65 anos, é uma antiga estrela do críquete que, em 1992, foi capitão da equipa que deu ao Paquistão o título de Campeão Mundial de Críquete. Argumenta que o país, potência nuclear de maioria muçulmana, durante anos liderado por militares, está a caminhar na direção da democracia, lutando contra a corrupção. E usa como exemplo a detenção do ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif, no dia 13, à chegada a Lahore, proveniente de Abu Dhabi.
Sharif, de 68 anos, bem como a filha, Maryam, foram condenados à revelia por corrupção. O político, que foi já três vezes chefe de governo do Paquistão, mas nunca completou um mandato, era acusado da compra de apartamentos de luxo em Londres através de uma sociedade offshore. Como denunciado nos Panama Papers. A sua condenação surgiu quase um ano depois de ter sido removido do cargo de primeiro-ministro pelo Supremo Tribunal do Paquistão e quase cinco meses depois de a justiça o ter inabilitado de concorrer a cargos públicos.
Face a isto, o candidato da Liga Muçulmana do Paquistão-Nawaz é o irmão de Sharif, Shahbaz Sharif, de 66 anos. Os apoiantes deste partido, que foi o vencedor das eleições anteriores em termos percentuais, consideram que a queda de Nawaz Sharif teve motivações políticas e foi arquitetada pelos militares. Estes negam qualquer tentativa para influenciar os resultados das eleições desta quarta-feira no Paquistão.
Uma sondagem recente, de dia 12, realizada para a revista The Herald, colocou o partido de Khan em primeiro lugar nas intenções de voto com 29%, o de Sharif em segundo com 25% e o de Bhutto em terceiro com 20%. Assim, o filho da ex-primeira-ministra paquistanesa Benazir Bhutto, assassinada em 2007 pela Al-Qaeda em Rawalpindi, de apenas 29 anos, poderia eventualmente servir de fazedor de reis na formação de um governo caso nenhum partido tenha maioria absoluta.
Khan, no entanto, já fez saber que é um pouco avesso a fazer acordos entre os partidos. "Se tivermos de fazer uma coligação com um ou mais partidos, isso quer dizer que não vamos conseguir introduzir grandes reformas. Então, acho que nem sequer vale a pena formar um governo se é preciso fazer uma aliança de dois ou mais partidos."
Estas eleições servirão para renovar 342 deputados no Parlamento, 272 dos quais eleitos diretamente, 60 lugares estão ainda reservados às mulheres e 10 às minorias religiosas. A maioria reside em conseguir 137 dos 272. Entre as minorias há quem tenha decidido optar pelo boicote, como por exemplo Salim Ud Din, da comunidade Ahmadi (movimento religioso muçulmano que foi fundado na Índia por Mirza Ghulam Ahmad).