Eleições gregas: os vencedores, os derrotados e o recém-chegado

Syriza falha maioria absoluta mas conquista 145 dos 300 deputados e vai renovar coligação com o ANEL. Partido dos dissidentes liderado por Lafazanis fica fora do parlamento
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Não conseguiu a maioria absoluta que pediu diariamente durante a campanha eleitoral, mesmo assim Alexis Tsipras tinha ontem à noite razões para sorrir. Quanto estavam contados quase 93% dos votos, o Syriza tinha 145 dos 300 lugares do parlamento e o ANEL, o fiel parceiro de coligação do Syriza, contrariando as sondagens e elegia 10 deputados. Na nova legislatura, a dupla Tsipras-Kammenos terá menos sete deputados, mas não terá de lidar com os dissidentes do Syriza, que ficaram fora do hemiciclo.

A Nova Democracia vai continuar como o maior partido da oposição, apesar de ter perdido lugares, enquanto os neonazis da Aurora Dourada cimentaram o seu lugar de terceiro maior partido, subindo de 17 para 18 deputados.

A recuperação mais extraordinária, em comparação às legislativas de janeiro, tem o nome do PASOK. Os socialistas ganharam mais quatro deputados - têm agora 17 - e passaram de sétimo para quarto maior partido. De janeiro para agora, o parlamento ganhou mais uma força política agora são oito, com a entrada da União dos Centristas.

Outro dos destaques destas eleições antecipadas vai para a abstenção, que rondou os 44%, um valor recorde nas legislativas gregas.

Os vencedores

"Esta vitória é vossa. Hoje sinto os meus atos justificados porque o povo grego deu-nos um mandato claro para continuar a lutar dentro e fora do país", disse ontem à noite Alexis Tsipras no discurso da vitória. Ao seu lado estava Panos Kammenos, o líder do ANEL, com quem vai renovar a coligação governamental iniciada em janeiro.

Esta aliança era desejada pelos dois líderes, mas, segundo as sondagens, estava em perigo, pois tudo apontava para que o ANEL ficasse fora do parlamento. Mas esta não foi a vontade de 3,67% dos eleitores gregos, que proporcionaram 10 deputados ao partido de Kammenos.

Hoje vou "proceder, com o primeiro-ministro Alexis Tsipras, à formação de um Governo (de coligação) para fazer sair a Grécia da recessão e do desemprego", declarou o ex-ministro da Defesa no seu discurso, também de vitória.

"O Syriza mostrou que é demasiado forte para morrer apesar de ter sido alvo de tantos. Temos dificuldades à nossa frente, mas também terreno sólido, perspetivas", prosseguiu o próximo primeiro-ministro grego, na praça Klafthmonos. "Na Europa de hoje, a Grécia e o povo grego são sinónimo de resistência e dignidade e a esta luta será continuada em conjunto por mais quatro anos", declarou ainda Tsipras.

Outros dos vencedores da noite é o PASOK, que concorreu nestas eleições coligado com o DIMAR. Após as eleições antecipadas de janeiro, na altura liderado pelo ex-ministro Evangelos Venizelos, foi o partido menos votado do parlamento (4,68%, 13 deputados). Ontem, já sob o comando de Fofi Gennimata, tornou-se na quarta maior força política do país, conquistando 6,26% dos votos, o que representa um grupo parlamentar de 17 deputados.

Os derrotados

A Nova Democracia - que nas últimas semanas aparecia nas sondagens quase empatada com o Syriza, havendo mesmo vezes que liderava as intenções de voto - não conseguiu convencer os eleitores gregos, ficando abaixo da sua votação das últimas legislativas antecipadas, mas mantendo-se como o maior partido da oposição. Ontem, com quase 93% dos votos contados, conseguia 28,03% dos votos, o equivalente a 75 deputados. Em janeiro, tinha obtido a confiança de 27,81% dos eleitores, o que se traduziu em 76 deputados.

O líder interino dos conservadores, Vangelis Meimarakis, reconheceu a vitória de Tsipras pouco depois dos votos começarem a ser contados. "Parece que o Syriza é o vencedor e dou-lhes os meus parabéns. Em janeiro, alguns acreditavam que estávamos acabados e que nos tinham dado o golpe final. A Nova Democracia não foi destruída, não está acabada, é um pilar de estabilidade", declarou à porta da sede da Nova Democracia.

Esta derrota coloca outra questão: a da permanência de Meimarakis à frente do partido, cargo que assumiu interinamente com a demissão de Antonis Samaras após o referendo de 5 de julho. "Vamos discutir isso na altura certa, a formação do governo está primeiro", respondeu Meimarakis aos jornalistas.

Mas o grande derrotado desta noite eleitoral é a Unidade Popular, o partido criado no final de agosto por um grupo de dissidentes do Syriza e um dos grandes causadores do pedido de demissão do governo de Tsipras. Aquando da cisão, o grupo de 25 deputados liderado pelo ex-ministro Panagiotis Lafazanis conseguiu a proeza de se tornar no terceiro maior grupo parlamentar grego. Ontem conquistaram o voto de apenas 2,87% dos eleitores, valor abaixo dos 3% necessários para entrar no parlamento. O partido "perdeu a batalha, mas não a guerra", declarou ontem Panagiotis Lafazanis. "Amanhã, iremos enfrentar um armagedão do resgate e a Unidade Popular vai estar lá", declarou.

A ex-presidente do parlamento, que também saiu do Syriza e se apresentou como candidata independente nas listas da Unidade Popular, também pertence por isso à lista dos derrotados... mas não se deu por vencida. "Estamos orgulhosos de ter lutado contra os poderes e a favor das pessoas", disse Zoe Konstantopoulou, sublinhando que a votação de ontem representa a vontade de apenas 50% da população (numa referência à abstenção).

O partido de centro-esquerda To Potami que se estreou nas legislativas de janeiro com 6,05% dos votos e 17 deputados, ontem não foi além dos 4,12%, o equivalente a 11 lugares. O seu líder, Stavros Theodorakis, assumiu a responsabilidade pelo resultado e disse que o partido seguirá numa direção "progressista".

O recém-chegado

A União dos Centristas, depois de ter conseguido a preferência de apenas 1,79% dos eleitores gregos nas legislativas antecipadas de janeiro, vai ter na próxima legislatura 9 deputados, graças aos 3,40% dos votos que conquistou ontem. Número que vai ao encontro do que mostravam as sondagens.

Este partido centrista foi fundado em 1992 por Vassilis Leventis, que ainda o hoje o lidera. Engenheiro civil e aspirante a músico, Leventis, de 63 anos, tem pouca visibilidade nacional mas ganhou alguma notoriedade ao criar o seu próprio jornal, que luta contra o poder instalado que "envenenou" a Grécia. "Sou um político, mas também sou um herético", disse na semana passada o também membro fundador do PASOK, um dos partidos que agora critica.

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