Ele vai correr o País em cadeira de rodas
José Lima, de 53 anos, percorreu em 2007 a distância entre Viana do Castelo e Faro em cadeira de rodas. Agora este paraplégico prepara-se para a primeira Volta a Portugal: 900 quilómetros em duas semanas
A primeira Volta a Portugal em Cadeira de Rodas vai sair para a estrada a 1 de Agosto. Mas mesmo com os 20 atletas inscritos que pretendiam percorrer em 15 dias 900 quilómetros, apenas dois vão poder participar, devido à falta de apoios. "Eram necessários 33 mil euros para comprar as cadeiras adaptadas e de apoios foi muito complicado", explicou ao DN gente José Lima, o paraplégico que, em 2007, numa cadeira de rodas adaptada, ligou Viana do Castelo a Faro.
Apesar das promessas de apoio de mais de 12 empresas e instituições, apenas a Câmara Municipal de Loulé disponibilizou uma verba de 2450 euros para assegurar a compra de uma handbike de competição. "Vamos ser só dois participantes e para marcar posição. Vou eu e uma senhora, utilizando a tal cadeira de rodas que foi oferecida ao clube", explicou o organizador. No ano passado, o impacto da sua viagem de 800 quilómetros foi tal que, durante 20 dias, reuniu à sua volta centenas de deficientes anónimos. José Lima avançou para a constituição do clube Volta a Portugal em Cadeira de Rodas (VPCR), que está na génese do lançamento da prova: "É uma luta contra a vergonhosa falta de igualdade de oportunidades com que todos os dias nos defrontamos. Desta forma provamos do que somos capazes."
O objectivo para esta primeira edição da volta é percorrer em 15 dias os mais de 900 quilómetros entre Valença e a cidade de Quarteira, no Al- garve e há vários dias que estão em curso os treinos, com viagens entre Viana do Castelo e Ponte de Lima. As handbikes que utilizam, de pedais manuais, caixa de velocidades e de fibra de carbono, podem até possuir um sistema eléctrico para permitir vencer as subidas mais íngremes, variando o custo de cada uma entre 1100 e 2900 euros.
O objectivo do clube pas- sa por obter patrocínios que assegurem a compra destas handbikes, as quais seriam "emprestadas" aos atletas inscritos, a cada ano, nesta prova. A partir de Agosto a perspectiva é percorrer, a cada etapa diária, 62 quilómetros. "Pode ser que para o ano os apoios sejam ainda maiores e a volta seja feita por uma meia dúzia. Há vontade dos atletas, só faltam os apoios", diz o organizador da prova, que vai voltar a recorrer à sua cadeira adaptada, que soma mais de um milhar de quilómetros.
Aos 53 anos, José Lima, residente em Viana do Castelo, enfrenta a vida numa cadeira de rodas. Homem de desafios, este paraplégico licenciado em Electrónica Industrial assume uma luta pela igualdade de oportunidades: "Falar de igualdade de oportunidades em Portugal é falar de uma grande treta. É isso que quero denunciar."
Com a Volta a Portugal em Cadeira de Rodas, José Lima pretende alertar para a necessidade de aplicação da legislação sobre barreiras arquitectónicas e acesso aos transportes públicos, mostrando simultaneamente as capacidades destes atletas.