Ela mostra determinação e tudo se espanta

Publicado a
Atualizado a

O casal inglês podia só estar um pouco açodado um com o outro ou talvez meio alanternado pelas ponchas. Tinham chegado ao porto do Funchal nesse sábado, partiriam à noite. Mas andavam há quatro semanas de cruzeiro - também cansa, até num velho casal, Susan, 65 anos, Michael, 69. Decidiram regressar mais cedo, e de táxi foram para Santa Cruz apanhar de avião o regresso. Já o Sol se punha num alpardinho triste - sem a explosão de cores que espera quem deixou Bristol - quando Susan se deu conta da falta do marido. Pensou que ele, num alfario de velho, regressara ao navio, talvez para a cinquentona do camarote vizinho. Do terraço do aeroporto, apesar do tempo abatumado, Susan julgou abispar a silhueta do Marco Polo, virando no Caniço. Num salto, ela desceu o abicadouro que leva ao mar, pelas escadas de pedra. Caía um auguio constante, os ossos molhados, e assim como assim, encovilhada à malinha de mão, Susan atirou-se à água. Passou a ser a mulher que queria intercetar o paquete e recuperar o marido. Mais de um terço de milha depois e três horas de braçadas, lá ia ela... E o Marco Polo já pelo oceano fora, sem o Michael, que afinal estava no aeroporto. Ela sempre com a malinha, que servia de boia, foi salva por pescadores, meia-noite e lua cheia. Li artigos e comentários e ninguém percebeu a simplicidade desta história, que é só vida. O único mistério é como em três horas, e a nadar, Susan aprendeu tantas palavras madeirenses.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt