"El Viejo", histórico do narcotráfico galego, não resistiu a uma queda em casa
O nome de Manuel Charlín Gama ganhou destaque mediático em Espanha no início da década de 1990, em consequência da operação Nécora, levada a cabo pelo então juiz do Tribunal Nacional Baltasar Garzón. Esse foi o primeiro grande golpe na atividade dos gangues de narcotraficantes que operam nos estuários galegos, muitas vezes com passagem pelo norte de Portugal. Preso em julho daquele ano, acabou por ser absolvido nesse megaprocesso, mas não lhe faltaram condenações. O narcotraficante já tinha cumprido uma pena entre 1982 e 1985, e voltou à cadeia em 1987, onde permaneceu por mais três anos.
Patriarca de um dos históricos clãs do narcotráfico galego, Los Charlines, Manuel Charlín morreu sexta-feira, aos 89 anos, na casa de família em Vilanova de Arousa (Pontevedra), conta o El Pais, citando fontes policiais. O histórico contrabandista não conseguiu sobreviver a uma queda doméstica.
Apelidado de 'El Viejo' em Fariña , livro de Nacho Carretero publicado em 2015, a interpretação do personagem na série baseada na obra do escritor galego tornou-o um ícone do narcotráfico, popular junto do grande público. Descrito como um homem irritável e obstinado, teve uma vida marcada por inúmeras operações judiciais, com entradas e saídas da prisão, consequência de uma longa história ligada ao contrabando e outras atividades criminosas. Foi também um dos primeiros a usar Portugal como palco para os seus negócios ilícitos, conta La Voz de Galicia.
Juntamente com o irmão José Luis, Manuel Charlín fundou a maior organização galega dedicada ao contrabando de tabaco na década de 1970. Daí, Los Charlines deram o salto para as drogas e, com uma poderosa frota de navios, assumiram o controlo do narcotráfico nos estuários galegos e os seus filhos passaram a ocupar a primeira linha do tráfico de cocaína, heroína e haxixe.
A primeira grande condenação de Manuel Charlín chegaria apenas em 1999, quando o Tribunal Nacional o condenou a 20 anos de prisão por organizar o transporte de 600 quilos de cocaína da Colômbia para a costa da Galiza. Em fevereiro de 2003, foi também condenado, juntamente com outros 13 membros do clã, a 15 anos de prisão e ao pagamento de uma multa de 2.916.000 euros pelos crimes de branqueamento de capitais por tráfico de drogas e fraude fiscal.
Permaneceu preso até 17 de julho de 2010, data em que foi libertado graças à nova doutrina do Tribunal Constitucional que possibilitou a reformulação das sentenças quando cumpridas duas ou mais sentenças. Tinha então 78 anos.
Dois dias depois, no entanto, foi forçado a comparecer novamente ao tribunal. Acusado de crime de lavagem de dinheiro, no âmbito da Operação Repesca , na qual foram presas um total de 14 pessoas, seis delas integrantes do clã. Mesmo assim, o patriarca foi libertado após pagar uma fiança de 30.000 euros.
No entanto, em 2010, 20 anos após o golpe de 'Nécora', começou o verdadeiro declínio da família. A Justiça começou a leiloar os bens do clã para fazer face aos quase três milhões de euros da sentença de 2003. Entre os imóveis vendidos estava o icónico paço 'Vista Real', em Vilanova de Arousa (Pontevedra), que foi adjudicado ao Ayuntamiento local.
A morte de Charlin assinala o final de uma era no narcotráfico galego, mas a justiça ainda continuará a perseguir o rastro que ele deixou. Atualmente, "El Viejo" estava a ser investigado, juntamente com os filhos, por um novo crime de branqueamento de capitais. Desta vez, Manuel Charlín já não chegará à barra do tribunal.