Eike Batista escapa a masmorra mas divide cela com mais seis
Eduardo Oberg, juiz da Vara de Execuções Penais, arrependeu-se de ter feito no ano passado uma vistoria, ainda que rápida, à Prisão Ary Franco, no Rio de Janeiro: passou depois 20 dias numa unidade de cuidados intensivos de um hospital carioca por ter contraído uma doença transmitida pelas fezes dos morcegos. A Ary Franco, mais conhecida como "masmorra", é considerada a pior prisão do Rio, com celas subterrâneas infestadas de ratos, baratas e dos tais morcegos, sem vasos sanitários e sobrelotação de 220%. Eike Batista, sétimo homem mais rico do mundo em 2012 com fortuna superior a 30 mil milhões de dólares, saiu da classe executiva de um voo de Nova Iorque para o Brasil, na segunda-feira, diretamente para lá. Mais tarde conseguiu transferência.
Alegou a defesa do empresário acusado na operação Eficiência, desdobramento da operação Lava-Jato, de suborno de 16 milhões de dólares ao ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho (PMDB) para obter vantagens na construção de obras, entre outros crimes, que o seu cliente corria risco de vida na "masmorra".
A Secretaria de Administração Presidiária concordou que não tinha condições para garantir a segurança de Eike num estabelecimento dominado pela organização criminosa Comando Vermelho, uma das envolvidas nos massacres nas prisões no princípio deste ano, e autorizou a mudança para Bandeira Stampa, cadeia que é parte do Complexo Penitenciário de Gericinó e conhecida como Bangu 9. À partida, Eike não teria acesso a Bandeira Stampa, onde passou a primeira noite detido, por não ter concluído o curso de Engenharia.
Com apenas 77,5% de ocupação e população prisional composta essencialmente por ex-agentes de polícia e ex-membros de milícias (grupos privados que se ocupam da segurança de comunidades carentes do Rio), as celas da ala onde está Eike, 60 anos, são para sete ou oito, têm 15 metros quadrados, quatro beliches, um buraco no chão como casa de banho e um cano de água fria como chuveiro.
Os presos podem comer quatro refeições - arroz ou massa, carne de vaca, frango ou peixe, salada, fruta ou doce ao almoço e ao jantar e café com leite e pão com manteiga ao pequeno-almoço e ao lanche da tarde. Estão autorizados também a levar TV de até 14 polegadas, um rádio de pilhas e uma ventoinha. Nos primeiros dois meses de prisão, por razões burocráticas, os presos não podem receber visitas além da dos seus advogados. Na cadeia vizinha, Bangu 8, está detido Sérgio Cabral Filho (PMDB), o político que o ex-dono da petrolífera OGX é acusado de corromper.
Na segunda-feira causaram furor na internet as imagens de Eike de cabelo rapado - usava, assumidamente, desde há anos um vistoso implante capilar com base no tratamento Tricosalus -, mas ontem a imprensa destacou sobretudo a sua saída das instalações de Bandeira Stampa para prestar declarações na delegacia da Polícia Federal de Combate ao Crime Organizado e Desvio de Recursos, na região portuária do Rio. O gestor dissera em entrevista minutos antes do embarque do Aeroporto JFK, em Nova Iorque, para o Antônio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro (ver entrevista ao lado), estar disposto a colaborar com a justiça e a pagar pelo que fez.
"A Lava-Jato é espectacular (...) o Ministério Público está a passar o Brasil a limpo de uma forma fantástica (...) o Brasil que está nascendo agora vai ser diferente, você vai passar a sujeitar-se a procedimentos normais, transparentes, e que ganha quem é melhor (...) quem errou, tem de pagar", afirmou.
A prisão preventiva de Eike foi determinada na semana passada. A polícia federal, no entanto, não encontrou o empresário na sua casa no Rio de Janeiro e alertou a Interpol, que, por sua vez, acionou o alerta internacional encarnado classificando-o como "foragido". Com dupla nacionalidade brasileira e alemã, suspeitou-se que pudesse não regressar ao país.
Além de Eike, a operação Lava--Jato já levou para a prisão o presidente da maior construtora do país, Marcelo Odebrecht, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral Filho, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB), os ex-ministros da Casa Civil José Dirceu e Antonio Palocci (ambos do PT), entre senadores, ex--senadores, deputados, ex-deputados e dezenas de executivos de topo brasileiros.