Efeitos da crise: cidadão paga mais e saúde mental foi penalizada
"Os portugueses ainda têm acesso aos cuidados de saúde estatais, apesar desse direito estar ameaçado se não forem acionadas medidas que corrijam muitas debilidades encontradas", conclui o Relatório da Primavera 2015 apresentado hoje. Entre as debilidades encontradas pelo Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) estão a falta de enfermeiros, a redução de consultas nos centros de saúde e a rede de cuidados continuados ainda muito limitada. A crise deixou os cidadãos mais pobres e a alteração de algumas regras está a levá-los a pagar mais pelos cuidados de saúde. Mas foi a saúde mental a que mais sofreu com a crise.
Mas este não é o único desafio ao sistema de saúde. Há também a mudança para uma sociedade envelhecida. "Vamos ter cada vez mais doenças crónicas e degenerativas. As implicações são imensas e o acesso aos cuidados de saúde é completamente diferente. Perto de 20% da população é idosa e em média tem cinco doenças crónicas. O que perguntamos é quem está pensar no sistema para dar resposta a esta nova realidade?", pergunta Manuel José Lopes, um dos coordenadores do Relatório da Primavera. Uma das portas de entrada nos cuidados de saúde são as urgências e o modelo atual pode não ser mais a resposta indicada.
As despesas de saúde pagas pelo próprio "têm vindo a aumentar, apesar do alargamento da percentagem de pessoas isentas das taxas moderadoras. A este aumento não será alheia uma distribuição desigual de profissionais de saúde pelo território, uma diminuição das consultas nos cuidados de saúde primários e o enfraquecimento da rede de transportes e alteração dos transportes não urgentes de doentes entre outros", diz o documento. A saúde mental foi das que mais sofreu com a crise. Do lado da oferta e da procura. A crise aumenta o risco de problemas mentais, devido ao desemprego, à insegurança, às depressões. Com recursos humanos abaixo dos mínimos e financeiros compromete-se a resposta que devia estar reforçada nestas alturas.