Educação sem governo

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Os professores tiveram a maior mobilização alguma vez vista em Portugal, com enormes manifestações que juntaram mais de cem mil professores e profissionais do ensino. Greves com enorme adesão, vigílias, protestos por todo o país. Foram um exemplo para todo o país de defesa da sua classe e da Educação. As suas lutas têm visibilidade internacional.

Como resposta o ministro ataca o direito à greve, tenta silenciar os docentes e avança sozinho com um pacote legislativo lesivo para os professores sem diálogo ou acordos. Este governo está de má-fé, aprova as medidas que entende simulando que são aproximações, mas na realidade ignora completamente as exigências dos professores, governando contra eles e os seus direitos de forma meramente economicista. Não se trata com este tipo de arrogância uma classe que deu uma lição de unidade e democracia representativa, que luta inteira e unida pelos seus direitos. É uma atitude incendiária e desrespeitosa e que tem consequências muito negativas para a escola pública e o seu futuro.

O governo, na sua cegueira de lutar contra os professores, apresenta insensibilidade social perante inúmeras injustiças e assimetrias e falha na sua missão inicial e prioritária de resolver o problema da falta de profissionais, enredando-se em intrigas e meias medidas lesivas, que em nada contribuem para aumentar o número de professores ou candidatos à profissão, pelo contrário, não se vislumbra nenhuma medida nesse sentido.

A par de uma carreira minimamente atrativa para os jovens e do respeito devido aos professores na carreira, seria preciso investir em formação e atração de jovens para os cursos, estágios remunerados, pagamento a orientadores nas escolas (prevê-se que estas funções venham a cair sobre os mesmos docentes de sempre) e garantir uma verdadeira formação teórica pedagógica, a par de verdadeiros estágios de aprendizagem prática em contexto e não apenas numa integração emergencial do tipo "faça você mesmo".

De tanto se empenhar nesta luta insana contra uma classe, em vez de se constituir parceiro colaborante e parte da solução, este ministro perdeu o foco do objetivo central deste momento crucial para a Educação, onde se perspetiva que quase metade dos professores se reformem nos próximos 6 anos.

Sem soluções à vista, mantendo-se a crescente desvalorização da carreira, o resultado será um aumento sem precedentes de licenciados não profissionalizados de diversas áreas, sem formação pedagógica, podendo daqui resultar uma diminuição nunca antes vista da qualidade da escola pública, com um custo social e económico incalculável para o país. Prevê-se, assim, um retrocesso civilizacional numa das mais significativas conquistas de abril.

Quem desinveste da escola pública e perde os professores, perde o futuro. Não é possível construir uma Educação de qualidade à revelia dos seus atores.

Desinvestindo na Educação, desprestigiando os seus profissionais e disseminando uma imagem negativa, de confrontação e falta de competência, estamos a transformar a escola pública num nicho para os pobres e quem não tem outra alternativa e, assim, ter finalmente um sistema barato de serviços mínimos.

Sem a intervenção séria de forças sociais e outros níveis de magistratura política deste país, a Educação em Portugal prepara o seu regresso ao passado.

Líder da bancada parlamentar do BE

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