Eduardo Souto de Moura distinguido na Galiza
A cerimónia da quinta edição dos Prémios de Arquitetura Ascensores Enor decorreu hoje em Vigo e Eduardo Souto de Moura teve direito a uma homenagem especial no ano em que venceu o prémio Pritzker.
Questionado pelos jornalistas sobre como é que se faz arquitectura em tempo de crise, o galardoado foi peremptório: "Talvez se faça melhor, desde que haja encomendas, porque exige mais disciplina e mais rigor".
As grandes obras de arquitetura "nunca foram as obras dos períodos altos, exactamente são estas obras de crise, de passagem", disse, enfatizando que "é mais difícil, mas o resultado é melhor, porque exige da parte dos arquitectos um rigor e uma depuração mais exigente".
Recordando que "já disse 20 vezes que crise, em grego, quer dizer mudança", Souto de Moura sublinhou que "as vanguardas fazem-se na mudança".
O Pritzker 2011 voltou a alertar que "não há trabalho para os arquitectos portugueses" e que a situação está cada vez pior.
"Portugal está em crise há muitos anos, nunca houve muito dinheiro. (...) O momento em que os portugueses se convenceram que eram ricos - e está a dar estes resultados - foi na Expo 98, foi a desbunda", condenou.
Segundo Souto de Moura, "antes do 25 de Abril, e mesmo depois, era uma arquitectura rudimentar, especialmente no Porto, porque as obras públicas e as grandes encomendas eram em Lisboa e os arquitectos do Porto faziam praticamente obras privadas", de pequena dimensão.
"Havia pouco dinheiro. Eu lembro-me que trabalhei anos com o Siza [Vieira], muito disciplinado em termos de orçamento. Não havia grandes extravios", recordou.
Questionado pelos jornalistas sobre se tem tido mais solicitações desde que ganhou o Pritzker, o arquitecto respondeu que "em Portugal zero".
Revelou que teve "uns pedidos para Angola e para Moçambique, mas que vão demorar" e acrescentou: "Tenho feito concursos lá fora. Tive uma encomenda da China, uma torre. Espero que vá para a frente".
Admitindo uma maior pressão desde que ganhou o galardão, Souto Moura alertou para o facto de "neste momento, os construtores estarem a fazer preços de sobrevivência, com prejuízo, para manter as empresas e algum pessoal", para poderem "apresentar no banco uma carteira de trabalhos para terem algum subsídio".
Lamentou, a propósito, que "não há ninguém a concorrer para ter lucro. A discussão faz-se em quanto é que se vai perder".