Edmundo Martinho: "Estamos a preparar-nos para arrancar neste ano com as apostas hípicas"
O ano passado foi o melhor de sempre dos jogos sociais da Santa Casa?
Foi. Quer em termos absolutos quer em termos relativos. Foi um ano em que os jogos tradicionais, os mais antigos, que vinham perdendo algum terreno, conseguiram ter um impulso. E foi muito positivo no que diz respeito aos novos jogos, o Placard e o 1Milhão, e às alterações ao Euromilhões. Todos corresponderam às expectativas e alguns superaram em larga medida o que esperávamos.
Já tem dados finais do investimento que os portugueses fizeram em jogos em 2016?
Sim. O ano terminou muito em cima dos 2,6 mil milhões de euros. Valores que mostram bem a forma como os portugueses têm entendido o papel da Santa Casa e o dos jogos sociais que são jogos do Estado. Foi um ano que consideramos globalmente muito positivo.
A opção de entrar no jogo online é uma consequência da procura que existe pelos jogos sociais?
É e não é. A Santa Casa tem a exploração dos jogos sociais em regime de exclusividade dado pelo Estado. É uma opção. Nesse sentido o online é de alguma forma também uma continuação desse tipo de responsabilidade no que diz respeito ao jogo responsável e em condições éticas. É um mercado que surgiu a partir do momento em que o governo anterior decidiu abrir o mercado do jogo online aos privados. Assim, fazia todo o sentido que a Santa Casa não ficasse fora desse processo.
Mas existiu alguma hesitação da Santa Casa em entrar no jogo online...
Diria que houve sim uma ponderação séria daquilo que era uma circunstância nova e sobre o papel da Santa Casa. E é obvio que uma ponderação tem sempre momentos de hesitação, momentos de maior convicção. Mas no fim desse processo chegou-se à conclusão de que não faria nenhum sentido que a Santa Casa da Misericórdia não estivesse presente nessa área nova de jogos quando tem aqui um know-how acumulado, além de ter uma presença no território português relativamente aos jogos sociais que no nosso entender justificariam que estivesse presente nas apostas online.
A Santa Casa criou uma sociedade com outras entidades para concorrer...
A legislação que define as regras de acesso ao jogo online determina que este é um tipo de operação que só pode ser exercida por sociedades anónimas. Ora a Santa Casa está longe de ser uma sociedade anónima. E, portanto, nessa circunstância punha-se a seguinte questão: que forma deve revestir esta sociedade no que diz respeito à sua estrutura acionista? E a opção, desde a primeira hora, foi a de que o que faz sentido é que a Santa Casa seja um polo aglutinador e estimulante de uma solução que englobe outras áreas do setor social e que não se envolvesse com entidades privadas. A convicção desde o início foi a de que a envolvermo-nos neste processo deveríamos fazê-lo, e é de lei, mesmo que a lei não o exigisse, com entidades afins da Santa Casa, embora distintas, mas que prossigam igualmente fins de carácter social.
Quem faz então parte da Sociedade de Apostas Sociais?
Por ordem decrescente de participação: União das Misericórdias Portuguesas, Fundação Montepio, Cáritas Portuguesa e ACAPO - Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal.
E como está o processo neste momento?
A sociedade está constituída e tem a sua sede instalada, estamos numa fase de construção do plano de negócio - isto é um investimento muito sério, portanto, tudo isto tem de ser feito de uma forma muito ponderada. Nesta altura, estamos a tratar da escolha da solução tecnológica que será o suporte de toda esta atividade. Está concluído o processo de identificação das soluções. Agora é preciso decidir e só depois é que se pode dar o passo seguin-te. O requerimento da licença só pode ser feito de forma perfeitamente instruída, ou seja, tem de ter o detalhe da solução tecnológica final. Este passo de escolha dessa solução determinará todos os passos seguintes. Estamos a trabalhar no plano de negócio e estamos a ultimar esta escolha para que depois possamos requerer esta licença para os jogos que esta sociedade vai explorar.
Quando espera que o site esteja disponível online?
O que gostaríamos, e isso é diferente do que poderá acontecer, pois podem surgir questões com que não estávamos a contar, é que em meados do verão pudéssemos estar online. É para aí que estamos a apontar em termos de trabalho e queremos que este processo seja bem-sucedido. Queremos entrar rapidamente, mas com os pés bem assentes na terra . Portanto, estamos a dar passos firmes, mas seguros, nem que isso possa significar o sacrifício de alguns tempos. A expectativa é que algures em julho/agosto possamos estar online.
Usando uma expressão futebolística seria no início da época...
É pelo menos o início da nossa época. É um momento até simbólico e muito marcante na atividade desportiva. É um momento simbólico porque depois do chamado defeso está toda a gente muito virada para o que vai ou não acontecer [na época futebolística].
Atualmente quem joga online tem como oferta modalidades mais conhecidas, futebol, basquetebol, etc. Esta sociedade poderá avançar também, por exemplo, com apostas nas corridas de cavalos, que nem são um hábito em Portugal. Poderá ser uma oferta diferenciadora?
A Santa Casa, e não a Sociedade de Apostas Sociais, tem para Portugal o exclusivo das apostas hípicas, mútuas territoriais, ou seja aquilo que possa ser feito através dos nossos mediadores. É um exclusivo que ainda não está disponível até porque a legislação é recente, há um conjunto de aspetos que temos vindo a articular com o Ministério da Agricultura que é quem tem a responsabilidade da definição dos hipódromos que em Portugal se podem dedicar a corridas de cavalos. Nesta fase, estamos a preparar-nos para ainda neste ano podermos arrancar com as apostas hípicas mútuas ao nível territorial.
Avança nos mediadores e depois no online com corridas internacionais...
Não faria sentido que estando a Santa Casa envolvida nessa modalidade a nível territorial não disponibilizasse essa possibilidade de aposta em corridas de cavalos. Para responder à sua questão: não é, de facto, uma tradição portuguesa. Temos, sim, uma grande tradição na criação de cavalos de determinadas raças. Não de corrida, mas de criação e desenvolvimento da arte equestre. Portanto, aquilo que se pretende é disponibilizar aos portugueses a possibilidade de poderem apostar, e temos experiências de países em que também não havia nenhuma tradição de apostas hípicas e que se tornaram um sucesso. É um tipo de apostas muito motivadora, muito estimulante, as corridas são curtas, há um entusiasmo quer pelas corridas quer pelas apostas que lhe possam estar associadas.
No caso português, essas corridas teriam de ser muito mais divulgadas.
Houve o cuidado de na legislação que suporta as apostas hípicas se dizer que uma parte substancial dos recursos que eventualmente venham a gerar se destina ao apoio da chamada fileira do cavalo, isto é, ao desenvolvimento da criação de cavalos, desenvolvimento de hipódromos, que a lei define que deverá haver, como máximo, três no país. A lei define que estas apostas têm de ser estimulantes para o desenvolvimento de tudo o que tem que ver com o cavalo em Portugal.
Que licenças a sociedade vai pedir para o jogo online?
A ideia é requerer as licenças que a lei permitir com exceção do póquer. Quanto aos outros jogos, chamados de fortuna e azar (bingo, etc.), vamos provavelmente pedir licenças, independentemente de ainda não termos decidido se os vamos lançar e quando. Queremos de qualquer modo estar preparados para poder responder ao conjunto das expectativas dos apostadores e ter ofertas disponíveis também nos diferentes domínios. Mesmo que se decida que isso é feito de forma diferida ou que eventualmente nem será lançado pela sociedade.