Editora inglesa aposta em Eça de Queirós

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A editora britânica Dedalus lançou, esta quinta-feira, The Maias, uma tradução de Os Maias, de Eça de Queirós, para a língua inglesa. A obra foi traduzida por Margaret Jull Costa, especialista em literatura portuguesa, e foi apresentada na Embaixada de Portugal em Londres, no âmbito de presidência portuguesa da União Europeia.

Foi um momento simbólico para as letras nacionais, que quase 50 anos depois voltam a ter na Grã-Bretanha uma tradução actualizada de uma das obras-primas da nossa literatura.

"É o principal escritor português do século XIX e um dos maiores romancistas de sempre. Já traduzi seis livros do Eça e acho que ele é brilhante na criação de personagens. Quando o leio tenho a sensação de que cada frase é sempre nova e fresca", disse Margaret Jull Costa, perante uma plateia de cerca de cem convidados presentes no lançamento do livro.

Falando ao DN, reiterou que Os Maias "é uma obra fantástica", mas na difícil escolha do livro mais marcante de Eça, inclina-se para O Crime do Padre Amaro. "É difícil escolher um favorito porque ele é um escritor brilhante e ao mesmo tempo muito divertido. É um excelente observador e, até certo ponto, acho que tem um sentido de humor muito inglês", afirmou. Sendo certo que as subtilezas de Eça na língua de Camões são difíceis de verter para o inglês, a tradutora diz no entanto "também se ganha muita coisa na tradução, é um grande desafio".

A introdução à obra foi feita por Eric Lane, director-geral da Dedalus que explicou o contexto em que surge o lançamento. "Em 1992 iniciámos um conjunto de traduções de literatura europeia a que chamámos Dedalus Europe", lembra. "Nessa altura descobri por acaso Eça de Queirós num dicionário de literatura europeia. Rapidamente chegámos à conclusão que ele deveria representar Portugal nessa colecção e contratámos a Margaret para trabalhar todas as obras dele", acrescentou.

Agora, com seis livros já traduzidos (O Primo Basílio, O Crime do Padre Amaro, O Mandarim, A Relíquia, A Tragédia da Rua das Flores e Os Maias), o objectivo é ir mais além. Em 2008 será publicado A Cidade e as Serras e, no ano seguinte, a A Ilustre Casa de Ramires. A editora publicou também outros autores portugueses no âmbito do mesmo programa, como Mário de Sá-Carneiro (A Confissão de Lúcio e A Grande Sombra) e a antologia The Dedalus Book of Portuguese Fantasy, editado por Eugénio Lisboa e Hélder Macedo.

Apesar do empenho da editora, em termos comerciais as obras de Eça não terão grande impacto no Reino Unido. Na verdade, apenas três por cento dos livros de ficção que se publicam anualmente no país são assinados por autores estrangeiros, além de que os contemportâneos são bastante mais procurados do que os clássicos. Como tal, o projecto da editora só foi possível com apoios financeiros da Fundação Gulbenkian e do Instituto Camões.

Como dizia Eric Lane , dirigindo--se aos portugueses presentes no evento, "se querem saber onde os vossos impostos estão a ser gastos, aqui têm. E acho que é bem gasto", rematou. |

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