Edith Piaf: retratos e memórias da mulher que viveu tudo

No ano do centenário da cantora, uma exposição em Paris não esconde a sombra das tragédias de alguém que viveu como cantou, sempre no limite.
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Será culpa da "interatividade" que se tornou parte integrante, tempero indispensável, para cumprir a receita de qualquer manifestação cultural dos nossos dias. No caso concreto da exposição que começa a assinalar o centenário do nascimento de Edith Piaf, a eterna porta-voz de Paris, esse elemento de participação chega para reduzir o comum dos mortais ao estatuto de humilhado.

Num primeiro momento, recebe um aparelho que lhe permite acompanhar a observação dos 400 objetos relacionados com a voz de Non, Je Ne Regrette Rien e de Milord ao som de nada menos de 50 êxitos da Piaf.

No segundo, dispõe da oportunidade, através da utilização de um requintado karaoke em cabine protegida (e precavidamente insonorizada), de cantar um de cinco hinos da protagonista. O pior é que tudo fica gravado e pode ouvir-se de seguida o resultado, o esforço anónimo em perseguir uma voz imortal ou em adaptar o tom - dá direito a choro e ranger de dentes pela desgraça, ou pelo menos a um envergonhado ruborescimento pe-lo desfecho, seguido da obsessão em evitar que mais alguém possa ouvir o desastre e padecer de infalíveis efeitos secundários...

Felizmente, quando se regressa ao curso normal da mostra que a Biblioteca Nacional de França organizou, há uma presença dominadora e que dá o tiro de partida para múltiplas reflexões: pendurado, dominador, impossível de ignorar, está o "simples vestido negro" que a cantora dizia servir-lhe de amuleto e que a acompanhou em tantas atuações, nas melhores salas do planeta, mas sobretudo nas suas temporadas parisienses.

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