Economistas destacam trabalho de vencedores do Nobel sobre impacto de decisões a longo prazo
O bastonário da Ordem dos Economistas, Rui Leão Martinho, realçou, em resposta escrita à Lusa, que "quer William Nordhaus, quer Paul Romer desenvolvem um trabalho meritório que a Academia agora reconheceu, no sentido de contribuírem para a compreensão do impacto a longo prazo das decisões, nas áreas da sustentabilidade e do bem-estar".
O bastonário destacou ainda o contributo de Nordhaus, pela "importância de avaliar científica e economicamente a questão das intervenções políticas climáticas, um tema que se encontra no epicentro das agendas políticas, económicas e sociais".
Já António Afonso, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) de Finanças Públicas, Economia Financeira e Macroeconomia conhece bem o trabalho de Paul Romer, que teve "alguns contributos muito interessantes para a teoria do crescimento económico", salientou.
"A ideia é que o nível de crescimento de longo prazo possa de alguma forma estar ligado a coisas tão simples como capital humano, introdução e produção de tecnologia. Essas teorias de crescimento endógeno, na prática, trazem um acréscimo ao que existia, porque tentam ligar o crescimento macroeconómico a fundamentos microeconómicos", disse o docente em declarações à Lusa.
André Silva, professor de Economia na Nova SBE (School of Business and Economics) e investigador em Macroeconomia e Finanças, afirmou que o Nobel para Romer "era esperado".
"A ideia de Romer é que o desenvolvimento das tecnologias implica ganhos crescentes para a economia. Uma invenção pode ser usada por muitas pessoas ao mesmo tempo. Há um efeito multiplicador gerado pelas invenções. Este efeito multiplicador tem o nome técnico de externalidades", salientou.
O economista explicou ainda que "há uma interseção" com William Nordhaus", porque este "tem um trabalho importante sobre a quantificação das externalidades na economia. Apesar da criação de novas tecnologias e do crescimento da economia gerar efeitos positivos, também há a geração de efeitos negativos, pois a produção maior e as novas tecnologias podem gerar efeitos como a poluição", referiu André Silva.
O docente resumiu ainda que "o trabalho de Romer enfatiza o crescimento económico através das externalidades positivas" e que "o trabalho do Nordhaus leva em conta as externalidades negativas e propõe formas de medi-las".
O Prémio de Ciências Económicas (Prémio Sveriges Riksbank de Ciências Económicas em Memória de Alfred Nobel) foi hoje anunciado pelas 10:50, hora de Lisboa.
Em comunicado, a Real Academia das Ciências sueca justifica a atribuição do 50.º Prémio Nobel da Economia a William D. Nordhaus (1941) e Paul M. Romer (1955) pelos seus trabalhos de integração da inovação e do clima ao crescimento económico.
Este prémio foi já entregue 49 vezes a 79 pessoas, mas apenas uma mulher o conseguiu alcançar, a norte-americana Elinor Ostrom, que em 2009 o dividiu com Oliver Williamson pelas suas análises sobre política económica de propriedades comuns.
Os vencedores receberão nove milhões de coroas suecas (970.000 euros), que serão entregues numa cerimónia em Estocolmo em 10 de dezembro.