Economia e a diplomacia desportiva
Uma diplomacia que facilite a presença de mais empresas portuguesas no estrangeiro e mais empresas estrangeiras a investir em Portugal é positiva para o crescimento económico. Mas uma diplomacia que queira promover Portugal junto de outros países e atrair outros países a Portugal não pode prescindir de outros argumentos, para além dos económicos. E, neste sentido, a diplomacia cultural e desportiva são, elas próprias, instrumentos essenciais à diplomacia económica.
Quando se visitam as comunidades portuguesas no estrangeiro, alcançamos o verdadeiro valor daquilo que é a expressão desportiva de Portugal no mundo da diáspora. E quando se abordam muitos operadores comerciais, que em Portugal acolhem delegações desportivas estrangeiras ou exportam bens e serviços desportivos, constatamos o valor e a dimensão económica que representam para as suas empresas e para Portugal.
E se modalidades desportivas como a vela, o golfe, o hipismo ou o surf, entre outras, têm hoje programas de promoção de Portugal por esse mundo fora, outras vivem de iniciativas individuais, quase sempre em redor deste ou aquele operador comercial sem que o país disponha de uma estratégia concertada de aproveitamento das suas potencialidades.
Um aproveitamento que está muito para além da presença neste ou naquele certame internacional e onde se procura promover Portugal pelo sol, pelas praias, pela gastronomia ou pela oferta hoteleira que tem. Um aproveitamento que requer um estreitamento das relações com as empresas, com as organizações desportivas e respetivos parceiros.
O estudo que o Comité Olímpico de Portugal encomendou a uma consultora, a PWC, recolhe evidências muito significativas.
Em 2019, o desporto terá gerado um VAB [valor acrescentado bruto] de 4210 milhões de euros e 133 mil empregos (impacto direto e indireto), traduzindo-se num peso de 2,3% no VAB e 2,8% nos postos de trabalho nacionais.
Esta situação deveria ajudar a refletir as autoridades públicas responsáveis pela diplomacia, pela indústria, pelo comércio, pelo turismo e pelo desporto, no sentido de promoverem sinergias entre os diferentes setores e parceiros, e de forma a garantirem, por um lado, valor à imagem que ao longo dos anos Portugal tem vindo a construir no relevante domínio desportivo e, por outro, melhor acautelar e capitalizar todos os benefícios desportivos e económicos que o mesmo tem trazido ao País.
Particularmente num contexto de recuperação e retoma do impacto de uma crise que fustigou severamente o tecido desportivo nacional, contribuindo para revitalizar um setor onde o consumo desportivo dos agregados familiares coloca Portugal na cauda da União Europeia e, de acordo com as evidências recolhidas no já referido estudo, foi um dos mais afetados no espaço europeu, com uma quebra de 13% do contributo do setor para o Produto Interno Bruto nacional.
Só com um alinhamento concertado entre entidades públicas, associativas e privadas se pode reverter esta tendência indo mais longe, rentabilizando ao máximo as condições inigualáveis que temos para oferecer, seguindo as boas práticas de países que se afirmaram na exportação ou no roteiro de destinos desportivos e projetaram, através do desporto, uma parte da internacionalização da sua economia.
Presidente do Comité Olímpico de Portugal