Economia do vírus: inovação, tecnologia e o "próximo"
As capacidades humanas para ultrapassar situações críticas são quase ilimitadas. E mesmo nas piores condições impostas, as pessoas adaptam-se, pois o instinto de sobrevivência é poderoso. No dizer de ViktorFrankl, quando há um sentido para a vida, uma pessoa encontra forças para sobreviver: "Quando fui levado ao campo de concentração de Auschwitz, um manuscrito meu, pronto para ser publicado, foi-me confiscado. Certamente o meu profundo desejo de reescrever tal manuscrito ajudou-me a sobreviver os rigores do campo em que eu estava".
É uma frase inspiradora, apesar do drama de Auschwitz, para vermos se neste lockdown, estamos focados em algo mobilizador, que queremos realizar, pondo paixão nisso: escrever ou terminar um livro; completar um projecto; aprender a tocar um instrumento; entrar a fundo nas TI (Tecnologias de Informação), fazer um blog com os trabalhos e experiências pessoais; melhorar o domínio de uma língua; etc. algo que nos mobilize a sério!
Perante uma epidemia ou uma pandemia faz-se o que for necessário, submetendo-se a todos os sacrifícios, para se poder sobreviver. E tudo num ambiente otimista, de colaboração muito solidária.
As medidas de precaução e, entre elas o lockdown quase total, estancaram a criação de riqueza, anularam o ganha-pão de muitos que viviam do seu trabalho diário, com necessidade de esquemas de apoio. E elas tiveram impactes dramáticos no produto interno dos países de todo o mundo. Mas mais importantes do que a riqueza são as vidas de cidadãos do país. Havendo saúde a riqueza pode esperar... para se criar mais tarde.
Apesar disso, tivemos boa oportunidade de aprender coisas da maior importância para melhorar a nossa qualidade de vida:
- O lockdown para evitar contactos e contágio do vírus levou-nos ao teletrabalho. Foi uma solução de emergência, que nos mostrou que tal era possível, admitindo aperfeiçoamentos para se ter uma eficiência acrescida. Talvez haja primeiro que classificar os tipos de tarefas que mais facilmente podem ser feitos à distancia; outras que admitem uma presença parcial no escritório, completada com tarefas em casa; e ainda outras que poderão exigir maior permanência no escritório, numa fase inicial.
- Só o facto de se poder trabalhar à distancia traz vantagens claras: maior presença no seio da família, mais atenção às pessoas, novas e velhas e às suas necessidades; possibilidade de se confecionar a culinária, com o toque singular; oportunidade de fazer certos trabalhos nos momentos de cansaço, como o tratamento da roupa, das louças, etc.
- Em todas as cidades, sobretudo nas de maior extensão e população, menos viagens significa menos tempo perdido e, portanto, mais tempo aproveitável, para pensar, planear e para ganhar novas skills úteis.
O lockdown ensinou mais:
- Às empresas de e-commerce, a sua importância e porque hão de entrar no comércio de quase todos os produtos solicitados e necessários para o dia-a-dia das famílias;
- Às pessoas em lockdown levou-as a familiarizar-se com o e-commerce, comprando maior variedade de artigos. Talvez antes houvesse uma retração; será que me entregam a tempo? E os produtos virão no estado e apresentação que eu quero?
As ordens de compra do e-commerce podem sempre complementar-se com a ida ao supermercado do bairro, para adquirir produtos que precisam de uma apreciação local.
- Nas grandes cidades e para certo tipo de artigos de uso frequente, sem perdas de tempo em deslocações e filas de espera, o e-commerce tem óbvia vantagem. Mesmo sem contar com os incentivos, como a entrega no domicílio ao comprar um valor mínimo; ou as frequentes promoções, podendo-se obter preços muito acessíveis.
Por causa do vírus, a tecnologia digital está a mostrar o seu valor e economia:
- Se havia muitas ideias adormecidas ou deixadas aos inventores estrangeiros, elas agora estão a surgir em ritmo acelerado na Índia: notáveis inovações e adaptações de aparelhos para salvar vidas.
Via na TV que há alguns centros de Investigação a desenvolver ventiladores, para facilitar a respiração das pessoas com o vírus, que afeta os pulmões. Uma das 7 ou 8 propostas, em finalização, era um ventilador por um custo de 1/100 dos normais ventiladores em uso nos hospitais, com um peso de 1/450 dos mesmos.
- Estão a explorar-se outras ideias de desenvolver vacinas (espera-se ter uma em setembro) ou de fomentar a imunização, injetando o plasma das pessoas que tiveram o vírus e se curaram, etc. Habitualmente, é a pressão das necessidades sentidas que fazem acelerar o processo criativo, tanto nas invenções como nas melhorias tecnológicas.
- Muito em especial o lockdown parece ter ensinado algo de vital importância: que existem outros à nossa volta, a quem não demos atenção suficiente: uns que se sacrificam por nós (como pessoal da saúde, polícias, condutores de ambulâncias, empregados de supermercados e farmácias, etc.); outros, que não têm o suficiente para viver ou ter uma vida humana digna, mas que apesar disso, estão prontos para ajudar o próximo.
- Deu-nos tempo para pensar que estão perto de nós, necessitados do mesmo que nós, nesta fase de encerramento, para se alimentarem e se protegerem. As pequenas ajudas e atenções mútuas de que fomos alvo, fizeram-nos entender como é enorme a alegria de dar. Estas interações - no dar, no receber -, não esqueceremos, pois ensinaram que há, em cada pessoa, um coração que se alegra ou sofre, que agradece, que se emociona!
Professor da AESE Business School